sexta-feira, 24 de julho de 2009

A unanimidade (in)contestável da Nação Zumbi


A Nação Zumbi vai tocar na minha cidade neste sábado (25). Não precisei ler matéria em jornal ou mesmo ver outdoors para ter acesso a essa informação. Ela foi chegando de boca em boca, por amigos de diversos segmentos sociais que vinham me perguntar se eu iria à apresentação dos mangueboys. Meus “chegados” certamente vão. Eu ainda não sei.

A minha dúvida não vem do fato de eu desgostar da banda. Pelo contrário: sou fã. O lance é que dei uma enjoada do show deles, pois assisti a muitos nos últimos anos. Além disso, devo confessar que tenho ficado incomodado com uma certa unanimidade que gira em torno da Nação Zumbi, tanto por parte dos fãs quanto da imprensa, que insistem em colocá-los como “a melhor banda do Brasil”, uma espécie de gênios incontestáveis da raça. E o pior é que, talvez, os próprios membros da banda estejam se convencendo disso...

O que me fez notar essa unanimidade — burra, como diria Nelson Rodrigues — foi assistir a alguns shows da NZ em festivais. Lembro de a apresentação deles ser apontada como a melhor do evento antes mesmo de entrarem no palco. As pessoas sempre chegavam dizendo: — Foi demais, não foi? E a verdade é que, algumas vezes, a performance não tinha sido tão legal assim.

Um dos “pontos fracos” que enxergo atualmente na Nação é fato de o ritmo ter ficado devagar demais. Essa sensação fica nítida quando eles tocam músicas dos seus dois primeiros discos ainda gravados com Chico Science: Da Lama ao Caos e Afrociberdelia. Tudo bem, algum fã mais entusiasmado pode me contestar: mas isso é uma opção estética, uma aproximação proposital com o Dub, espécie de reggae doidão e cheio de efeitos. Hum ... eu até gostaria de crer nisso, mas, infelizmente, acho que essa “ralentada” vem também das limitações vocalísticas e performáticas de Jorge du Peixe.

Essa impressão de “mudanças por conta de limitação” ficou ainda mais clara para mim quando assisti a um show do Los Sebozos Postizos, projeto paralelo dos membros da Nação dedicado a versões para clássicos de Jorge Ben, Tim Maia, Beatles, entre outros. Novamente, todas as releituras tendiam de uma forma não muito natural para o lado “down” da coisa. Bem, alguém pode me dizer de novo que é a tal opção estética pelo ‘reggae doidão’. Não quero subestimar essa hipótese, até porque estou falando de uma banda que, já no primeiro disco, trazia uma música intitulada “Coco Dub”. Mas, como disse, acho que a limitação de Du Peixe, que “teve de optar” por usar um efeito delay na voz, auxiliou na busca por esse formato.

Da parte da mídia, também sinto uma certa vibração desmedida pelo Nação Zumbi. Lembro, por exemplo, que os projetos paralelos Maquinado (do guitarrista Lúcio Maia) e Três na Massa (do baixista Dengue e do baterista Pupilo) receberam ampla divulgação e fartos elogios da imprensa especializada. Ora, realmente os caras merecem esse destaque, até por sua importante contribuição ao rock brasileiro e, de forma geral, à MPB. Mas me recordo, por exemplo, de estar assistindo a um clipe do Três na Massa e, ao receber a visita de um amigo desavisado, ouvi dele: essa música não é muito legal, com um vocal que parece desafinado. E aí me caiu a ficha: até eu estava entrando na farsa da genialidade dos membros da Nação.

A minha intenção com essas críticas não é denegrir ou diminuir a importância da Nação Zumbi. Na realidade, o meu ponto é mais questionar essa unanimidade e excesso de reverência que giram em torno da banda, o que não considero muito saudável. Quando falei que até os próprios membros talvez estejam se convencendo dessa genialidade, estava me referindo ao fato de, na semana passada, assistir ao guitarrista Lúcio Maia indicar um clipe da NZ na edição especial de clássicos do programa Toca Aí, da MTV, em comemoração ao Dia Mundial do Rock. Considerei a escolha de um clipe da própria banda, num programa que exibia clássicos, meio esquisita e imodesta.

De qualquer forma, vale lembrar que assistir à Nação Zumbi é sempre uma aula de música. A alta qualidade que atingiram nestes 15 anos de estrada, desde o lançamento de seu primeiro disco, Da Lama ao Caos (1994), é de impressionar até mesmo o ex-guitarrista do Pink Floyd, David Gilmour, que elogiou os mangueboys durante a participação do grupo no programa do inglês Jools Holland.

Outro ponto louvável na carreira da banda é a forma como superaram a morte de seu líder, Chico Science. Conceitualista nato, Science também era um carismático frontman e porta-voz do grupo. A solução de colocar o grande brother de Chico e também conceitualista Jorge du Peixe nos vocais e letras foi mais do que acertada. E, se a banda passou um por período em que ainda buscava sua nova marca (nos discos CSNZ e Radio S.amb.A), desde 2002 vem lançando álbuns cada vez melhores (Nação Zumbi, Futura e Fome de Tudo).

Hoje tenho vários amigos respeitáveis que até preferem a atual Nação Zumbi àquela capitaneada por Chico Science. E, sob certo ponto de vista, a banda realmente amadureceu, principalmente na parte instrumental. Mesmo com toda essa moral e competência, acho que eles ainda estão longe de se tornarem incontestáveis, como quer boa parte de seus fãs e da imprensa.

10 comentários:

  1. Oi

    Quero te entrevistar para o blog www.rockpara.blogspot.com. O meu email é yendis1974@yahoo.com.br.

    Um grande abraço

    Sidney Filho

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  2. Falou e disse, Marlos.
    Quando um cara como o Dengue (que no 1o. disco era quase um analfabeto musical) cria coragam para tirar uma foto como essa que estampa o seu post, pode ter certeza de que a coisa já foi para o saco...

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  3. Haha. Com certeza. Além da roupa do Dengue, a espada de samurai do Lúcio Maia me agrediu um pouco também.

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  4. Muito bom o texto. É isso. Tiro o chapéu para a banda que ralou muito com a morte de Chico e não amoleceu. Buscou, experimentou e achou. Agora, humildade é tudo! Seja pra quem for...

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  5. Oi, Paulo. Valeu pela ilustre visita.
    Realmente, a idéia do texto é falar sobre as inegáveis qualidade da banda, mas questionando um pouco esse excesso de reverência que fãs e imprensa criaram em torno da Nação Zumbi. Com certeza, faltou humildade no gesto do Lúcio Maia em pedir o próprio clipe num dia de clássicos da MTV.
    De qualquer forma, não conheço os caras (já tive contato há muitos anos, mas sempre superficialmente) e nem sei se eles carregam realmente essa falta de modéstia para outros lados de suas vidas.

    abç.

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  6. Olha, eles são gente boa, e nos anos 1990, quando eu estava na MTV, era o início deles. Lá demos muita força à banda. Agora de fato pedir o próprio clipe não é preciso, até pelos anos de carreira que a banda tem.
    Ele podia ter pedido um Clash, não? Ou até mesmo um de alguem do Recife pra dar uma força, tipo Eddie ou coisa assim...

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  7. Com certeza, paulo. Concordo contigo em gênero, número e grau.

    abç.

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  8. Não digo que não gosto de Nação Zumbi, mas tá longe de ser minha praia. Respeito o som dos caras, mas só. Faz tanto tempo que não vou a show deles que nem sei se já fui a algum depois do Chico Science, hehehe...

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  9. E aê Pinduca? Acabei de esbarrar no teu blog. Vc me me conhece, sou um cara do HC que nunca se deixou enganar pelas bandas de Recife. Abraço!

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  10. Fala, Evandro. Valeu a visita. Apesar de tom de crítica, eu gosto da Nação Zumbi (e outras bandas pernambucanas). O meu lance aqui era mais criticar a unanimidade que gira em torno delas, o que não considero saudável.
    Sobre sua verve HC: acho que você vai gostar de um texto que escrevi sobre o BSB-H. Tá lá no começo das postagens, acho que em junho.
    A propósito, já comecei a ler o seu novo livro. Tem umas histórias muito doentes!!!

    abração

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