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quarta-feira, 1 de julho de 2009
Edgard no Ar – Forgotten Boys, Retrofoguetes e Lanny Gordin
Nesta terça à noite, ao chegar em casa, liguei a TV e vi que estava passando o programa Edgard no Ar, no Multishow. As atrações eram os paulistas do Forgotten Boys, os baianos do Retrofoguetes e a lenda da guitarra Lanny Gordin, que, entre importantes trabalhos com os tropicalistas, gravou o disco Fa-Tal, da Gal Costa, e ainda tocou com o Hermeto Pascoal.
Essa é a terceira edição que assisto do programa. Já tinha visto um com Móveis Coloniais de Acaju e Macaco Bong e outro com Nação Zumbi e Curumim. O formato é interessante: pautado no inglês Jools Holland, no qual os convidados se apresentam lado a lado, contando, às vezes, com a participação do apresentador. O som, a propósito, é muito bem equalizado, coisa rara na TV brasileira até pouco tempo atrás. Um dos pontos que ajuda nesta qualidade sonora é o próprio aprimoramento dos equipamentos das bandas brasileiras. Se hoje é possível encontrar amplificadores Orange no palco, antes o que reinava era o famigerado Jazz Chorus, da Roland.
Mas voltando à edição de ontem, a banda que mais gostei foi o Retrofoguetes, principalmente pelo ótimo guitarrista Morotó Slim. Ele e o também excelente baterista Rex são ex-membros do Dead Billies, banda responsável por um dos melhores shows que já vi no circuito independente brasileiro (Goiânia Noise, 2001). O legal de assistir ao Morotó tocando é notar o domínio que ele tem da guitarra de rockabilly e surf music, frutos de dedicação e alguns anos de estrada. As composições também são boas, fugindo do lugar comum prevalecente no gênero.
As únicas derrapadas do Morotó foram nos covers. O primeiro foi Stray Cat Strut, do Stray Cats, em que ele engasgou nas últimas frases do solo. Neste ponto, vale ressaltar o quanto as frases do Brian Setzer são difíceis de serem tocadas. Eu arriscaria dizer que nunca vi um guitarrista brasileiro tocar bem Stray Cats, até porque, em certos aspectos, a guitarra de Brian Setzer está num grau de dificuldade maior do que a do Jimi Hendrix.
A outra derrapada do Morotó foi no solo de Sunshine of Your Love, do Cream. Na verdade, o solo dele não chegou a ter notas erradas, mas deu para notar que os longos bends do blues não eram o seu forte. Um cara perfeito para tocar essa música seria o canhoto Gabriel Guedes, do Pata de Elefante, que entende do riscado quando o assunto é Eric Clapton.
Aliás, já que estamos falando em grandes guitarristas, vale a pena citar a participação especial de Lanny Gordin no Edgard no Ar. Ele tocou uma música que acredito ser de sua autoria, junto com os competentes Os Wilsons, banda de apoio do Edgard, e mandou uns solos atonais/dissonantes de fazerem inveja a Vernon Reid (Living Colour) e Lee Ranaldo (Sonic Youth). O que dá para notar é que, embora não esteja 100% em forma, Lanny Gordin é dono de uma musicalidade realmente diferenciada. O solo dele em Sunshine of your Love foi dos mais malucos que ouvi recentemente.
A terceira e grande atração da noite foi o Forgotten Boys, grupo atuante na cena independente paulistana e brasileira. Acho-os competentes, mas um pouco "mascarados". E esta característica, na minha opinião, acaba afetando o som deles, pois parece faltar-lhes uma certa "entrega" à música. O resultado sonoro, então, fica mais próximo do que deveria de suas influências (Rolling Stones e bandas proto-punks). E o pior (ou melhor) é que o guitarrista e vocalista Gustavo e o baixista Zé parecem ser bem ligados em música, conhecedores mesmo. Ou seja, potencial não lhes falta.
Um último ponto que eu gostaria de ressaltar é que o Edgard está aparecendo demais. Nesta edição, cantou três covers (ainda rolou Hound Dog, do Elvis Presley), enquanto só ouvi cada atração tocar uma música. Tudo bem que ele parece se esforçar para pegar as músicas, que são até bem escolhidas pela produção, de acordo com as atrações. Mas a impressão é que o programa está mais centralizado nele do que deveria. Se continuar assim, corre o risco de virar um Jô Soares dos programas de música.
Para quem quiser assistir a esta edição do programa, ela ainda passará nesta quinta (2), às 13h; na sexta (3), às 01h e às 07h30; no sábado (4), às 18h, e na segunda (6), às 8h.
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Meu caro, você é um dos caras mais equilibrados que conheço quando faz comentários desse tipo. Às vezes fico radical demais. Acho, por exemplo, que esse Edgard virou um mala de tanto que o ego ficou inflado. Pra mim ele já virou o Jô. A diferença é só o pouco tempo que ele está no ar, comparativamente.
ResponderExcluirabs.
Este comentário foi removido pelo autor.
ResponderExcluirpois é... o cara ta aparecendo muito mesmo.
ResponderExcluiro problema nao é so o ego inflado, nao. o cara canta mal, nao toca porra nenhuma - qdo ele aparece com uma guitarra pendurada eu ja fico mais puto ainda, hehe - alem do q as perguntas q ele/producao formulam sao muito bestinhas. nem sei pq mudaram o nome do programa, ja q lugar de palhaço é no circo mesmo : P
mas fora isso, acho legal o formato com duas bandas. e gosto das jams tb. pena é o apresentador ter mais espaco do q as atracoes, mas deve estar no contrato... : P
[]s
Valeu, Fernando e Alex. Pelo visto, o excesso de exposição do Edgard é o que mais incomoda os telespectadores!
ResponderExcluiraqui
ResponderExcluirhttp://www.interney.net/blogs/blogdocel/2009/08/13/edgard_piccoli_e_o_baile_do_simonal/#comments
tem mais uma opiniao sobre o nosso querido edgar... : P