Este espaço foi criado para a exposição de alguns pensamentos sobre música e outros assuntos do cotidiano.
segunda-feira, 30 de novembro de 2009
Relações de gênero: mulheres baixistas
Minha amada companheira — uso esse termo para designá-la porque, embora moremos juntos, não somos casados no papel — é meio feminista. Eu digo “meio” porque, apesar das opiniões contundentes, ela não chega a ser radical em seu discurso. De qualquer forma, mesmo ponderada, ela e suas amigas estão sempre atentas a qualquer tratamento desigual em relação aos gêneros, mal que, desde os tempos mais remotos, coloca as mulheres numa condição injustamente desfavorável em relação aos homens.
Eu, pelo meu lado, devo confessar que nunca dei muita bola para esse tipo de questão. Talvez simplesmente por ter nascido homem; ou, de repente, por vir de uma família mais conservadora do que a dela; ou ainda porque as mulheres sempre tiveram muita força de decisão em minha vida: desde minha criação matriarcal até a chegada a um mercado de trabalho dominado em grande parte por mulheres — pelo menos, na minha área de atuação, o Jornalismo. Tudo bem que eu já quis esganar uma chefe ou outra, mas isso nunca foi pelo fato de elas serem do sexo oposto, e, sim, pela estressante e desgastada convivência no trabalho.
Apesar das diferenças, minha companheira e eu costumamos ter uma convivência harmoniosa, na qual o que reina é a tentativa de compreensão da visão do outro. No entanto, um ponto que ainda não conseguimos chegar a um consenso se refere à presença de mulheres em grupos de rock. Enquanto ela tende a valorizar - e até comemorar como uma conquista - a participação feminina em bandas, apoiada nas dificuldades impostas às mulheres na execução de atividades predominantemente masculinas, eu tenho uma postura mais ligada à qualidade musical destes membros de saias, sem levar muito em consideração o seu background. Na minha visão, o mundo é moderno o suficiente para permitir de forma indiscriminada a participação de qualquer pessoa, seja “macho ou fêmea”, em uma banda de rock.
Exposta essa divergência de visões, aproveito para revelar uma questão de gênero que, particularmente, vem me incomodando nos últimos tempos: a presença em bandas de rock cada vez maior de mulheres baixistas que não possuem a mínima intimidade com seu instrumento. Não sei exatamente quando começou tal fenômeno, mas possivelmente Kim Gordon, a musa do Sonic Youth, tenha uma grande parcela de responsabilidade em sua proliferação. Gordon, como se sabe, é uma figura de personalidade forte e extremamente estilosa. Sem sua voz quase sussurrada e presença de palco, 50% do charme do Sonic Youth correria o risco de se perder. Por outro lado, qualquer conhecedor de música sabe que a baixista do Sonic Youth não toca e não canta absolutamente nada e a impressão que dá é que, sem as orientações do marido Thurston Moore e do chapa Lee Ranaldo, ela não conseguiria diferir o dó do ré na primeira corda de seu baixo.
Kim Gordon seria apenas um caso isolado se não tivesse feito escola. Depois dela, várias outras baixistas não muito boas, entre elas, Kim Deal, do Pixies, passaram a integrar bandas alternativas, muitas vezes passando a impressão de que o estilo está sendo priorizado em relação à música. Antes que me interpretem mal, gostaria de ressaltar que sou grande fã tanto de Kim Deal (no Pixies e como compositora de mão cheia no Breeders) quanto de sua mentora e grande amiga Kim Gordon — indubtavelmente, grandes artistas e matrizes dessa série. No entanto, não é raro os melhores artistas darem origem às piores escolas e, dos anos 90 para cá, o que mais vi foram mulheres ocupando o posto de baixista em bandas de rock (em detrimento da guitarra, da bateria ou do teclado). E, infelizmente, com raras exceções, elas parecem ter pouquíssima intimidade com o instrumento, o que as deixa num papel próximo ao figurativo — pelo menos, em termos musicais.
E aí, entra a minha pergunta: — Será que conquistar espaço desta forma, deixando a música de lado e apostando quase que 100% no estilo, é realmente um passo à frente para as mulheres? De alguma maneira, apesar de todo o senso de modernidade por trás dessa atitude, tal posicionamento não colaboraria para mantê-las na condição de mulheres-objeto? Poxa, outro dia vi uma banda formada só por meninas no programa Experimente, comandado por Edgard Piccoli no canal por assinatura Multishow, e confesso que fiquei meio envergonhado pelo resultado musical apresentado. E, mais uma vez, no lugar da música estava o quê? O velho e conhecido estilo.
Neste ponto, cabe uma explicação sobre o próprio papel do baixo nas bandas de rock. Quem não é músico talvez não saiba, mas o baixo é visto — de maneira quase sempre ignorante — como o instrumento mais fácil de se tocar. Não que exista instrumento elementar: se você tem compromisso com a música, qualquer pedaço de pau oco se torna desafiador. No entanto, o baixo geralmente aparece como o coadjuvante dentro de um grupo, aquele que fica segurando a nota tônica enquanto a bateria e guitarra se encarregam de ornamentar a canção. Por conta dessa visão, digamos, mais prática (ou rasa, sob outro ponto de vista), o incompreendido baixo costuma cair nas mãos de instrumentistas que possuem menos destreza. E está aí, na minha opinião, o motivo de estar tão em voga entre algumas garotas estilosas.
Voltando às minhas discussões musicais com minha companheira, o que sempre argumento em relação a essa minha implicância com as mulheres baixistas é que não costumo levar em consideração se um membro de uma banda é do sexo feminino ou masculino. O que importa para mim é se esse componente é bom ou não na tarefa que desempenha. E, neste ponto, não precisa ser nenhum instrumentista virtuoso para angariar a minha simpatia. Uma das baixistas da qual sou mais fã, por exemplo, é Tina Weymouth, do Talking Heads, que está longe de ser uma virtuosa, mas compensa essa falta de manejo com idéias interessantímas, ótimas referências musicais e uma pegada única. Outras baixistas fenomenais são a careca Meshell Ndegeocello, essa meio virtuosa, e Michele Stodart, do Magic Numbers, com uma pegada forte e ótimo conhecimento técnico do instrumento.
Saindo um pouco do território estritamente do baixo, diversas outras mulheres na música pop me chamam a atenção pelo seu talento: Chrissie Hynde (Pretenders), Debbie Harry ( “a” Blondie), PJ Harvey, Bjork (no Sugar Cubes e na carreira solo), Aretha Franklin, Rita Lee, L7, Joan Jett e Lita Ford (The Runaways), Exene Cervenka (X), The Bangles, Suzy Quatro, Luscious Jackson, Madonna, Karen Carpenter, Cindy Wilson e Kate Pierson (The B-52’s), Carole King, Cindy Lauper, Patti Smith, Siouxsie Sioux (Siouxsie and the Banshees), Stevie Nicks e Christine McVie (Fleetwood Mac), entre tantas outras. Longe de ficar ligado na sua feminilidade, o que me atrai no trabalho delas é a sua musicalidade. Para mim, é apenas isso o que conta e por isso sou um pouco cético em relação à onda de mulheres baixistas que não tocam nada.
De qualquer forma, falar dessas relações de gênero é sempre difícil, por se tratar de um tema muito delicado. De fato, acredito que, por infelizmente ainda viverem em uma situação desfavorável socialmente, as mulheres precisam de todo o apoio para participar de diversas atividades, principalmente as relegadas ao universo masculino. E, de maneira alguma, esse texto tem a intenção de se opor a isso. Pelo contrário, o intuito é questionar se uma ação pretensamente afirmativa não estaria gerando um efeito reverso. Mas, como disse nos primeiros parágrafos, essa é a visão muito particular de um homem que pode estar deixando de levar em conta muitas peculiaridades e dificuldades enfrentadas pelas mulheres. Podem deixar que, se eu tiver falado besteira, conto com um sistema de patrulhamento poderoso dentro da minha própria casa.
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Nessas questões de gênero, gosto de me perguntar qual é o relativo no universo masculino e se o tratamos de forma diferente. Em outras palavras, quais são os exemplos de homens que não tocam grandes coisas e estão/estiveram nas bandas só pelo estilo? Não sei, mas seria o caso do Sid Vicious? Ou ele era um bom músico? (Não consigo julgar porque não entendo nada de punk e muito menos de sex pistols). Mas imaginemos que ele fosse um músico lamentável que se tornou um ícone visual e representativo da atitude punk? Tendemos a ser menos exigentes com ele do que com uma mulher baixista estilosa? Se tendemos, é sinal de que que o machismo está contaminando nosso julgamento.
ResponderExcluirSei lá, Pinduca. Só não queria que esse assunto ficasse sem comments, porque acho ele muito importante e ia me chatear se ninguém desse bola para ele.
Grande texto. Abração.
É um tema delicado, mas não se deve temer falar sobre o mesmo. Podemos discorrer ficando aqui em Brasília mesmo. Surgiram muitas bandas, só de meninas, e levando a bandeira do feminismo a frente do seu trabalho. Bem no centro disso, veio a maior participação das mulheres nas "coisas de homem". Concordava totalmente e apoiava. O que ficava chato, até mesmo por causa de fofocas, era a convivencia das bandas feministas com as "supostas" machistas. Mas isso se resolveu logo, pois todo mundo ficou mais velho, foi trabalhar pra se sustentar e viu que o negócio era baseado, mais em falta de educação do que qualquer outra coisa. Isso faz um tempo já. Eu já toquei em uma banda com uma mulher no baixo. Ela era a mediadora entre as "coisas" que aconteciam na banda. Não tinha medo de falar e dar opiniões, contribuia musicalmente e, pra mim, era isso o que importava. Está até hoje na ativa. Cito este exemplo para falar que, as vezes, uma pessoa (sem citar gêneros) pode não ser conhecedora do seu instrumento, ou até, ser uma mera executora padrão do mesmo. Contudo, pode ser indispensável para a banda. Um ótimo exemplo foi citado colega "Beto Só". Péssimo músico, mas figura ímpar para o encaixe na cena da época. Logicamente, dependendo de muitos fatores, tais como: profissionalismo da banda, estilo musical e outros, não seria legal contar com músicos que, pelo menos, não executassem bem seus instrumentos. Estou com um projeto com minha "Respectiva" e estou ansioso para gravar. Espero que fique legal. Mas isso, é um outro assunto. Aliás sou fã de uma menina de voz singular: Anneke van Giersbergen. E muitas outras, mas citei essa pois tenho muito material sobre. Espero que tenha me feito entender sobre o assunto. Abração
ResponderExcluirSem comentários. O Pinduca tava intochicado com o som do Hüsker Dü quando escreveu essa bobagem.
ResponderExcluirTotalmente desimportante. Deixa quieto. Não boto fé não. Mas continuo fã e ele continua Linduca. A mulher é mulher e por mulher ser deve ser inatacável. Tem coisa mais chata que ver sempre quatro ou cinco machos em cima do palco? Deixa a mulherada tocar mal. O importante é ter mulher no palco, também. Viva a mulherada!
*
Tipo assim véi, sem querer ser chata e metida, até porque metida eu nunca fui nem quero ser, e sem querer causar polêmica, só querendo aprender um pouco e discutir a relação (relação leitora/autor), pergunto a você amado Pin: a ética do marceneiro é diferente da ética do médico? É diferente da ética do artista? Pergunto porque eu nunca vi um médico falar mal, em público, do trabalho de outro médico. Já nas artes isso é extremamente comum.
Monteiro Lobato, num artigo publicado em O Estado de S.Paulo, desancou não só a polêmica exposição de Anita Malfatti de 1917, como o futurismo, o cubismo, o impressionismo e todos os "ismos" da moda, dizendo-os produtos dos tempos decadentes, de cérebros deformados, afirmando que a única diferença das telas de Anita daquelas feitas nos manicômios, como terapia, é que a dos loucos era "arte sincera".
Lulu Santos falou mal, na TV, da belíssima Sandy, Renato Russo reclamou do sotaque baiano de Simone, minha rainha Ângela Rô Rô, numa atitude mais máscula que qualquer outra coisa, detonou com a maravilhosa Xuxa, Tom Zé tem uma rusga esquisita com Caetano Veloso, que é, em minha modesta opinião, o artista mais feminino do mundo, sendo do sexo masculino. Mulher sofre... Será que a ética desaprova a emoção?
A partir de hoje Lívia Sapassã entra em greve. Só volto quando o Pinduca colocar um texto dando o devido valor às cantoras brasileiras que sabem o que é ser mulher e amar mulher: Ana Carolina, Marina, Maria Bethânia, Ângela Rô Rô, Cássia Eller, Vange Leonel, Kika Colins entre outras.
Fui!
Concordo contigo Pinduquirus. Lembrei de uma história de uma feminista que, numa roda de amigos, contou toda orgulhosa que negou a gentileza de um homem que se ofereceu a ajudá-la a carregar as compras do supermercado. Respondeu ao galante rapaz com o seguinte refinamento: "Você acha que só porque eu sou mulher eu não dou conta de carregar as compras?" E deu as costas carregando aquele monte de sacolas.
ResponderExcluirEsse tipo de confusão, de gentileza com menosprezo, só faz separar mais do que agregar. Impor sua posição fazendo cagada...
É só olhar os orkuts da vida. Comunidades "mulheres baixistas", "rock de calcinha", etc. Po até quando vai ficar clube do bolinha, clube da luluzinha? Mulheres que também fazem isso etc etc... Toda vez que alguem vem falar: Cara, mas você viu? Era uma mulher no baixo! Me vem na cabeça uma frase de um trote que rolou na internet um tempao atras: "Grandes merdas ser adevogado!" Entao, e daí se era uma mulher? Independente de gênero, raça, credo, ou time de futebol, se faz bem podemos aplaudir, se faz mal podemos criticar.
Cacildis, escrevi pra cacete!
Já ouviu Esperanza Spalding?
Abraço,
Leo Ofugi (que não sabe tocar baixo e ficava fazendo ney matogrossices no palco pra disfarçar a defiência técnica)
Concordo com o Léo. Hoje isso não cabe mais. É coisa antiquada e demodê. Nem como marketing funciona mais. Não interessa o R.G. O que interessa é o artista. Atitude deve vir aliada a razão. E a razão depende, e muito, de questões filosóficas. Contudo, deve ser original sem perder as nuances que o tempo nos dá. E, hoje, certas atitudes mal tomadas, se tornam separatistas e findam qualquer resistencia inteligente.
ResponderExcluirBeto: De fato, Sid Vicious pode ser considerado um dos maiores “posers” da história do rock. Foi legal você ter citado o baixista dos Sex Pistols como “relativo” no universo masculino. Ao escrever o texto, eu me coloquei questões como essa também e confesso que não tenho uma resposta fechada e 100% convicta para a possibilidade de visão machista que você levantou. De qualquer forma, cabe explicar que o texto se baseou num processo de observação ao longo dos anos, dentro da cena roqueira nacional e internacional. E, por as mulheres serem em menor número no meio do rock, é mais fácil conseguir uma amostragem relevante para se construir uma hipótese/teoria. Neste caso, a minha preocupação foi expor essa tendência à qual observei. E, infelizmente, por termos mais homens no rock, o Sid Vicious acaba virando um caso isolado. De qualquer forma, ele é tão “poser” e “fashionista” quanto as mulheres que citei no texto, sem ser melhor ou pior.
ResponderExcluirMas, como disse, um dos focos do texto é apontar essa tendência, apoiado em observações e em amostragens. É como se eu trabalhasse na Ford e pedisse para fazer uma pesquisa sobre o aumento das vendas de carros de trilha (tipo Eco Sport) para mulheres. Aliás, vc já notou que esse segmento de carros, antigamente restrito aos homens, cresceu exponencialmente entre as mulheres nos últimos anos? O Eco Sport e os demais carros de trilha viraram praticamente veículos voltados para o público feminino!!! O que fez surgir esse fenômeno?
De fato, essas relações de gênero são assuntos muito delicados e difíceis de serem abordados. Fica sempre aquela impressão de não poder criticar, sob o risco de parecer insensível ou policamente incorreto. Mas todos nós sabemos que, mesmo em ações das ditas “minorias”, existem desvios de conduta, né? E é mais ou menos isso que eu queria apresentar no texto. No fundo, o grande ponto por trás do texto é – ou, pelo menos, eu gostaria que fosse - o “amor à música”. Ainda utilizando a sua visão de “relativo”, eu fico me perguntando: se eu escrevesse um artigo sobre homens (em vez de mulheres) talvez não tivesse tanto problema, pois a crítica às “maiorias” parece ser mais aceita. Li, há alguns anos, uma matéria que falava sobre a dificuldade de os homens viverem a sua sexualidade (ou masculinidade) nos tempos atuais: a sociedade moderna gerou tantas cobranças em relação ao seu desempenho e a uma mudança de atitude rumo ao universo feminino que ficou difícil ser, simplesmente, homem. É como se o jogo da opressão tivesse se invertido. Mas o certo não seria acabar com a opressão, ao invés de trocá-la de lado? Valeu pelo corajoso primeiro comentário.
Therje: Nunca ouvi Anneke van Giersbergen. Vou pesquisar na internet para dar uma escutada. Você levantou um ponto interessante: o fato de a participação de um membro de banda extrapolar o lado meramente musical: às vezes, um membro que não toca nada é quem aponta os caminhos estéticos, é quem ajuda na mediação de idéias e ou mesmo para convivência entre os outros componentes. Não dá para se deter na questão meramente musical. Uma banda é uma espécie de organismo, que depende da interação dos seus componentes, com cada um trazendo a sua contribuição. E, neste caso, as mulheres que não tocam muito bem podem estar contribuindo de formas que eu nem imagino. De qualquer forma, o foco do texto, como disse acima para o Beto, é apontar uma tendência de mulheres que têm, talvez, trocado a música pelo estilo. Não quero dizer com isso, de forma alguma, que todas as mulheres tocam mal (isso seria um absurdo), pois na história da música muitas delas foram exímias musicistas. Você pode ir assistir a uma orquestra sinfônica e encontrará homens e mulheres tocando lado a lado e bastante bem. Porém, na moderna música pop, por incrível que pareça, o que tenho visto ultimamente é a prevalência de mulheres que parecem encontrar no baixo um atalho para subir no palco. E isso eu não acho muito legal.
ResponderExcluirLívia: A questão, para mim, não é se quatro ou cinco machos estão em cima do palco, mas se quatro ou cinco músicos bons e dedicados estão em cima do palco. E, neste caso, podem ser mulheres ou homens. Realmente, minha intenção não foi mesmo redigir um texto sexista, mas apontar uma tendência existente no rock atual (e que inclui uma questão de gênero). E, acredite, é super difícil escrever um texto que contesta o que é considerado politicamente correto. Por outro lado, seria muito mais fácil eu celebrar a entrada das mulheres na música pop, sem questionar a forma como isso é feito atualmente. Porém, no meu entender, se eu fizesse isso, estaria “jogando para a torcida”. O meu ponto, no caso, busca se apoiar em argumentos (quase que) puramente musicais. O que eu procuro é música, feita por bons músicos, sem política de quotas por trás. Quanto à questão da ética em determinadas profissões, bem, acho que a Arte tem suas peculiaridades e, neste caso, não vejo problema em criticar (de forma educada) outros artistas (afinal, não existem críticos musicais?). E olha que sou tão preocupado com isso que, geralmente, prefiro nem citar nomes. Na verdade, acredito que minhas críticas possam ajudar a me melhorar e, se possível, melhorar o mundo (musical) também. Já me sinto satisfeito só de levantar a discussão e da possibilidade de ensinar e também de aprender alguma coisa. Poxa, se alguma garota estilosa se sentir estimulada a estudar o instrumento e tocar melhor só para provar que falei besteira, ficarei muito feliz com isso. Sobre as cantoras que amam mulheres, bom, novamente deixo o gênero e a opção sexual de lado e bato no ponto da qualidade musical: Maria Bethânia, Ângela Ro-rô e Cássia Eller têm até coisas legais, enquanto Ana Carolina e Vange Leonel são bem chatinhas, na minha opinião.
Léo: Concordo bastante com o que você colocou: já vi também muita gente fazendo cagada ao impor sua posição. E também não curto muito esse lance de Clube do Bolinha versus Clube da Luluzinha. O que me importa é se a pessoa toca bem o não, independente de ser mulher ou homem. Como diz uma frase célebre do escritor Oscar Wilde: “Não há livros morais e livros imorais. Há livros bem escrito e livros mal escritos. Só isso.” No caso, acho que uma paródia em relação à música vale a pena: Não existe rock feminino ou masculino. Existe rock bem feito e mal feito. Só isso. No caso, o texto busca questionar uma atitude pretensamente afirmativa por parte de algumas mulheres (mas que, na minha opinião, pode gerar um efeito contrário).
Therje (de novo): Concordo contigo: Não interessa o R.G. O que interessa é o artista.
Querido Pin, sua resposta é uma contradição em termos! Se a intenção fosse tratar da virtuosidade dos músicos, por que separar bons músicos homens de boas musicistas mulheres? Fofo, deixa isso pra lá. Eu sei que não foi por mal. Na verdade, você tem bom coração, mas a realidade não é a realidade que quer acreditar seu coração. A realidade é que ainda temos sim que lutar muito contra os preconceitos contra a mulher. O seu texto só se justifica em um contexto de preconceito. Estou acostumada.
ResponderExcluir*
Eu vi na TV que o Distrito Federal está coberto por um mar de lama de corrupção. Estou acompanhando...
Pinduca fofo,
ResponderExcluirbrilhante texto sobre as mulheres no mundo da música. Embora nao seja uma adepta radical do feminismo ( agrada-me sobremaneira ter a porta do carro aberta pelo meu parceiro e não considero uma ofensa quando um homem paga a conta do restaurante ou motel e me ajuda com os sacos do supermercado ), é gracas a ele que nós, mulhers, deixamos de manejar caçarolas e enfiamos o pé na porta do mundo masculino. Aprendemos, dentre outras coisas a pilotar aviões, dirigir empresas, pagar despesas de motel e fazer rock'n'roll, por que não? Mas como isso é um fenômeno relativamente recente, é compreensível que ainda chamemos excessiva atenção quando nos dedicamos a atividades essencialmente tidas como masculinas como jogar futebol ou tocar guitarra e ou baixo em uma banda de rock. Daqui há algum tempo nossa presença, seja em uma banda ou na presidência de algum país já terá sido amplamente absorvida e aceita. É questão de tempo. Sei, que por hora, embora muitos nos enxerguem como elementos exóticos e extravagantes em alguns ambientes, continuaremos tocando nossas vidas. A revolução rosa veio pra ficar e quem sabe, um dia, não dominaremos o mundo? "Hay que endurecerse, pero sin perder la ternura jamás." E vivam Cássia Eller, Janis Joplin e Amy Winehouse! Viva o rock'n'roll com meninas tocando bem ou mal!!
Beijocas!!!
O texto é realmente muito importante e não penso que ele revela, necessariamente, um preconceito. Eu acho que muitas mulheres, para serem consideradas boas no que fazem, comportam-se tendo como parâmetros homens bem sucedidos na área. Outras valem-se da feminilidade para atingir objetivos, não só na profissão. Outras são, por essência ou disciplina, excelentes, competentes, acima de média. Isso não é de hoje, há livros que registram que, desde os maias, havia episódios em que as mulheres contavam com suas habilidades. Não sei por que na música, no rock, seria completamente diferente... Não se resolve essa questão de forma simples. Há, então, virtuoses e outras pessoas que recorrem apenas ao estilo. E aí concordo com o Beto Só: é um fenômeno mais aparente nas mulheres, porque não é tão comum ver mulheres baixistas, mas muitos músicos homens também só contam com o estilo. Viajei, Pinduca?
ResponderExcluirps - eu amo a sua amada companheira!
Pessoal, desculpem a demora na resposta. Estive meio ocupado e utilizei o meu tempo livre apenas para escrever as novas postagens.
ResponderExcluirLívia: Realmente, não acho o meu texto preconceituoso. Mas não adianta nada ficarmos discutindo e tentando impor a nossa visão para o outro, né?. O legal talvez seja essa diferença de opiniões mesmo. De qualquer forma, pode deixar que, só para manter o equilíbrio no blog e me retratar com quem não gostou do texto, já pensei numa outra pauta: “Relações de Gênero: Homens Bailarinos (que não dançam nada)”.
Débora: Concordo com o que você disse: a Revolução Rosa veio para ficar e, com isso, as mulheres dividirão cada vez mais espaço com (ou mesmo sobrepujarão) os homens - mas isso não significa que um gentil cavalheiro não possa mais abrir a porta do carro para uma dama. E também acredito que as mulheres que tocam bem ou mal tenham que ter o seu espaço na música. O que o texto faz apenas é apontar uma tendência de mulheres que tendem a colocar o estilo na frente da música – e, por isso, escolhem o baixo como um meio mais rápido e fácil de subir no palco. O problema é que, infelizmente, o número de mulheres que tocam mal ainda é muito maior do que as que tocam bem, o que não faz muito sentido, na minha opinião. Torço para que esse quadro se reverta (ou, pelo menos, se equilibre).
Marla: Não viajou, não. Seus argumentos foram coerentes e muito bem embasados. Achei legal a sua colocação de que muitas mulheres agem como homens para serem respeitadas. De fato, o caminho não é por aí. E, por outro lado, outras se aproveitam da feminilidade para atingir seus objetivos. Do seu comentário, só ouso discordar da visão de que as mulheres acabam chamando mais a atenção do que os homens quando não tocam nada (o que teria motivado o texto). Na minha opinião, o que há é uma tendência (ou moda) que faz com que 90% das mulheres em cima do palco, atualmente, estejam tocando baixo (e mal). Ou seja, não há muitas mulheres guitarristas, bateristas, tecladistas, etc. O intuito do texto é questionar essa falta de diversidade instrumental feminina (o que, por enquanto, não acontece com os homens), até porque acredito no potencial das mulheres como musicistas. Na verdade, o que quero dizer tem o que vc colocou nas primeiras linhas do seu comentário: talvez as mulheres estejam agindo da forma errada (utilizando os homens como parâmetro ou abusando da feminilidade) ao entrarem numa banda de rock. E, no fundo, o que anda faltando é amor à música.
Abraços a todos (e desculpem pela demora na resposta)
Acho que tu és o amor platônico da Lívia Sapata!!!!!
ResponderExcluirPor: Leocádia Palpiteira.
Estamos em meio a uma sociedade da imagem , raros são os sons que transmitem verdade. A criação é totalmente moldada por formas pré-fabricadas pela mídia (imagem /som)..
ResponderExcluirEm meio a isso o gênero é algo superficial .
agora vem a questão , como transmultar esse medo , sim é um medo ou pode-se dizer tradição , onde o racional impede a subjetividade da criação , onde as tematicas não são reais ... nada é real, o musico nao sente oq faz ... re-agrupa riffes e ideias batidas sobre amor , desamor , solidao , individualidade de forma rasa .
Vejo que nosso grandes idolos ,os grandes nomes das artes , foram grandes por que se DESPIRAM deles mesmos ... existia uma nescessidade de cutucar no fundo das proprias feridas e penetrar no cerne das suas maiores paixoes ...
nao digo que todos concientemente ... mas sim... todos ficaram nus de si mesmos (e a todos )... está é a beleza da simplicidade ..vista em tantos , seculos a pos seculos , emocionando , chocando , informando ..
é isso que sinto .
não tem como enganar. é sensorial .
helena