quarta-feira, 25 de novembro de 2009

Observatório da Imprensa Musical — Parte 2














Ontem (24/11), lendo a revista Megazine, do jornal O Globo, deparei-me com uma pequena nota que me incomodou bastante. O textinho, publicado na coluna Liquidificador, de André Miranda e Télio Navega, dizia assim: A revista britânica New Musical Express fez uma lista dos melhores discos da década. Deu Strokes na cabeça, com This is it (sic). Nada contra o grupo de Julian Casablancas. Mas e o White Stripes? E o Arcade Fire? Esses, sim, tiveram relevância na década.

Cá com meus botões, não acho correto ser determinista nessas questões de gosto ou julgamento de qualidade artística. Mas, por outro lado, precisamos de certos parâmetros para nos guiar e, neste ponto, vale recorrer à objetividade de dados e fatos históricos. Diante disso, considero que os jornalistas que redigiram a nota cometeram um erro crasso ao contestar a votação da NME. Ora, se existe um disco relevante na virada do milênio, que ditou grande parte do que seria feito dali em diante por toda uma geração, esse álbum se chama justamente Is this it. Que o digam Franz Ferdinand, Arctic Monkeys, Libertines e tantos outros grupos que apareceram nos últimos anos, alguns deles começando a partir de covers ou incentivados por shows da banda novaiorquina. Is this it, portanto, se tornou a matriz de uma geração e, como disse muito bem um amigo meu, pode ser considerado o Nevermind dos 00’s, guardadas as devidas proporções.

Diante de tamanha influência e relevância do álbum de estréia dos Strokes, não há chance nesssa corrida para White Stripes e muito menos para Arcade Fire. OK, a banda de Jack White lançou grandes discos ao longo dos últimos anos e construiu uma carreira talvez até mais sólida do que a dos amigos de Nova York. Mas, como álbum, Is this it continua sendo o mais importante da década, de forma quase incontestável. Quanto à colocação sobre o Arcade Fire, sinceramente essa nem vale muitos comentários. Tudo bem, o grupo canadense é simpático e compõe boas canções, mas comparar qualquer lançamento feito por eles com o primeiro disco do Strokes é não demonstrar muita noção da (recente) história do rock. Ou seja, os jornalistas do O Globo, ao criticarem a publicação inglesa NME, provavelmente baseados em seus gostos pessoais, acabaram escorregando feio no quiabo.

Por falar na revista Megazine, outro dia me deparei com um equívoco até meio engraçado na mesma publicação – se não me engano, na coluna Qual é a boa?, escrita por William Helal Filho. A nota falava sobre um show do Capital Inicial que aconteceria na cidade do Rio de Janeiro naquela semana — foi, portanto, antes do acidente do vocalista Dinho. Em determinado trecho da nota, o jornalista resolveu utilizar um sinônimo para Capital Inicial e acabou usando o termo “a banda dos irmãos Ouro Preto”. Bem, quem conhece o mínimo da trajetória da banda de Brasília, sabe que o Capital é formado pelos irmãos Lemos (Flávio, no baixo, e , na bateria). O vocalista Dinho tem até um irmão que já se envolveu com música, chamado Ico, o qual integrou brevemente a Legião Urbana, mas este não deve mexer com música há pelo menos vinte anos.

Diante desse quadro, a minha recomendação para o editor da revista Megazine, do jornal O Globo, é que dê um bom puxão de orelhas nos seus jornalistas musicais. Se continuarem assim, merecem ganhar de presente o troféu abacaxi da imprensa musical ou, sei lá, alguns meses de castigo na cobertura policial.

8 comentários:

  1. Bacana o texto, mas só um toque... "Is this It" e não "This is It" ;)

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  2. Valeu a correção, Renata. Acabei seguindo o título errado publicado no jornal e me dei mal. Desse jeito, vou acabar exilado na cobertura policial junto com os repórteres do Megazine (rs).

    abç.

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  3. Cara, o jornalismo musical oferece matéria-prima suficiente para se fazer um blog exclusivamente para se comentar tais pérolas.

    E olha que nem precisa ir muito longe, o Correio Braziliense já me propiciou muitas risadas com suas matérias redigidas por pessoas que, excetuando o fato de simplesmente gostar, têm muito pouco a ver com música e que geralmente fundamentam seus textos com base nos releases que recebem.

    Há uns anos, numa matéria sobre os 30 anos do punk, se não me engano, um cara escreveu uma matéria que citava o "Nevermind the Bollocks" e destacava "o baixo poderoso" de Sid Vicious.

    Detalhe, o sujeito além de ter sido um instrumentista abaixo da crítica, nem gravou o baixo nesse disco....

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  4. Opa Pinduca, depois de breve viagem aos confins do país, estou aqui. Cara, eu não consigo entender algumas bandas de hoje - até foram citadas aqui - como sendo bandas... de HOJE!! KKKK... pra mim, muitas delas, são cópias das antigas. E gosto é muito difícil de compartilhar, principalmente nos dias atuais com 1 bilhão de bandas ruins e tendo que recorrer as velhas de guerra. Já sobre as matérias de jornais, não só na música, mas em qualquer área. Já passei muita vergonha com as do esporte...kkkk... Abs

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  5. Renato: Realmente, o jornalismo musical nos presenteia com pérolas como essa que você citou. Poxa, o baixo de Sid Vicious só era poderoso para bater na cabeça de cowboy. De resto, era bem fraquinho (rs). E, pelo que sei, o baixo de Nevermind the Bollocks foi gravado pelo guitarrista Steve Jones (pois Glen Matlock já havia vazado da banda). Estou correto? Fora minha época de estágio, nunca trabalhei em redações, mas sei que a rotina é ingrata e exaustiva. Esse é o meu desconto para os jornalistas, que, obrigados a escreverem sobre os mais diversos assuntos, acabam escorregando no tomate vez ou outra. Como já diz o ditado: “Herrar é Umano”. Mas, na minha opinião, erros crassos, além de demonstrarem despreparo por parte do jornalista, revelam também um problema de gestão do próprio jornal (que não coloca as pessoas certas nos lugares certos).

    Therje: Boto fé. Matérias de todos os cadernos do jornal costumam trazer erros pesados. Em parte, é o que digo no comentário para o Renato (acima): deve-se à rotina ingrata do jornalista, que tem que falar sobre os mais variados assuntos, sem, muitas vezes, ser expert em nenhum deles. Por outro lado, não dá para aliviar tanto assim para os jornalistas, né? Alguns, os competentes na área que cobrem certamente erram mais do que os incompetentes. E esse é o meu ponto em relação aos erros crassos.
    Em relação às bandas novas, tenho um sentimento parecido com o seu: todas soam meio velhas para mim. Por outro lado, tenho receio de me fechar demais para as coisas novas (atitude típica de quem envelhece) e tento, às vezes à fórceps, me manter atualizado. Mas confesso que isso tem se tornado cada vez mais difícil.

    Abs.

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  6. Ainda bem que eu posso, e acompanho a imprensa musical internacional. No Brasil jornalismo cultural é pura indicação pra consumo. Será que é porque os caras não tem tempo disponível para sentir o pulsar da atividade artística? É um absurdo! Até hoje ninguém conhece a Kika Colins! É muita falta de feeling véi. Caralho!
    Aê Pin, fiquei com dó do cara que levou o tombo. Afinal, há muito tempo que eu não via Dinho tão happy! E ele havia dado tanto prazer a platéia... Tomara que se recupere logo, afinal o Capital é a banda-boba mais doce do Brasil.
    Boto fé hein Pin! E issaê.
    Ó, gosto muito das coisa que a Débora escreve aqui viu? As mulheres escrevem mais coisa legal aqui do que os caras.

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  7. Gosto de ficar por dentro,por isso assisto MTVLAB. Os bons videos só passam de madrugada, mas claro que deixo gravando para assistir no dia seguinte. Tem clipes lá que nem cem anos passará no Multishow besteirol!!!!!
    Por: Leocádia Joana.

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  8. Pessoal, desculpem a demora na resposta:

    Lívia: Realmente, é importante acompanhar a imprensa internacional, até para ampliar os horizontes. E como você bem disse: jornalismo cultural no Brasil se confunde com indicação para consumo, o que é um lance meio deprê. Agora, nunca ouvi falar da Kika Collins também. Vou pesquisar na internet para ver se acho legal. Em relação ao Dinho, apesar de não gostar do som do Capital, fiquei com pena do cara, também. Coitado. Pelo menos, parece que ele já está se recuperando, né?
    Sobre a Débora: realmente, o que ela escreve é muito legal. Sou fã dela. O único problema é que, assim como você, tenho uma leve desconfiança e alguns indícios de que a Débora na verdade, seja um homem (rs). Internet tem dessas coisas, né (rs)? Bom, mas o importante são as idéias expostas e não o sexo do leitor/comentarista.

    Leocádia: Realmente, os melhores videoclipes costumam passar de madrugada. Infelizmente, a grande audiência da MTV é formada por adolescentes fãs de Jonas Brothers e outras boy bands/bandas emo. Outra hora legal de clipes é das 7 às 9 da manhã, quando passa o Lab Clássicos.

    Abraços às duas.

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