sexta-feira, 7 de agosto de 2009

Novo cardápio musical














Embora não seja vegetariano, costumo freqüentar restaurantes naturais duas ou três vezes por semana. A iniciativa ajuda a melhorar a minha saúde e também alivia a culpa por ainda me alimentar de carne. Uma característica notada ao ir a esses lugares é que a música de fundo tende a ser sempre de um estilo indiano misturado com new age. Então, o que rola é: você paga apenas para comer salada com arroz integral, mas tem de engolir todo um ambiente de “Paz Espiritual”.

O mesmo acontece com outros tipos de comida: onde se serve feijoada, ouve-se samba, para combinar com o clima “Brasil”. No restaurante japonês, o que prevalece é a música zen-kitaro. Estabelecimentos moderninhos, de comida fusion, são os templos do eletrônico “soft” e “ambient”. E, em restaurantes mais cool e noturnos, você será servido com um jazzinho ao fundo.

O que quero dizer é que, às vezes sem perceber, somos colocados dentro de um pacote, que o senso comum fez o favor de confeccionar para a gente. E se, por acaso, eu adorasse rabo de porco e não suportasse Zeca Pagodinho, o que faria? Por enquanto, nada. Porque se o assunto é feijoada, meu amigo, você está fadado a se tornar brasileiro “de raiz”, pelo menos por uma tarde. Em dias de arroz, feijão e couve, até o comportamento na mesa muda: as pessoas falam mais alto e com um vocabulário composto por gírias populares – a única coisa boa é a “obrigatoriedade” do uso de shortinho pelas mulheres.

Eu gostaria muito de poder ir um dia a uma feijoada e ouvir John Coltrane fase A Love Supreme ou até a new age de Enya. Ou, então, escutar o samba enredo da “Unidos de sei lá o quê” num restaurante cool noturno. Seria delicioso também furar os tímpanos com Olho Seco e Napalm Death num estabelecimento especializado em comidas naturais. Ou, transportando a idéia para o ramo de vestuário, adoraria ser atendido na loja de óculos escuros Chilli Beans por um vendedor sem tatuagem, com corte de cabelo tradicional e, de preferência, trajando terno e gravata.

Talvez o mundo se tornasse melhor se não fosse tão compartimentado – concluo eu.

12 comentários:

  1. hahahahahahaha!!!!!! Cada uma. Sem querer intelecutualizar, mas isto tem muito a ver com certa elaboração/composição identitária - minha orientadora que não me escute...-de uma dada manifestação cultural x ou y ou, no caso, de um ambiente x ou y.
    Lida-se como 'senso comum' de um determinado estilo ( por exemplo, samba e feijoada ) e acaba por reforçar um esteriótipo que não é tão assim à priori: Nós sabemos, por exemplo, que as bandas mais tosqueiras são VEGANs e nem por conta disto você escuta estes sons nos restaurantes naturais. O que seria muito interessante mesmo se ocorresse. Já pensou ouvir sub-humans no restaurante natural? Ou bandas cariocas de rock ( que é um outro esteriótipo ) nas feijukas da vida?
    Na verdade, como você mesmo disse, vende-se um uma ambiência que supostamente torna a comida mais saudável.
    Aliás, eu ODEIO comer em locais que tem música ao vivo. Acho extremamante constrangedor...

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  2. Hahaha... Isso mesmo, Pinduca. Uma das melhores combinações de música e imagem que já que vi é deste vídeo do Pelé no Youtube:

    http://www.youtube.com/watch?v=YuPjnWCeL8k&feature=related

    Quando está todo mundo esperando um Jorge Ben, (significando a estereotipada ginga brasileira), eis que começa um hard-core (deve ser finlandês) pra mostrar um aspecto que quase ninguém menciona e que está por trás de cada jogada: agressividade.

    Se você souber qual é esta primeira música, me diga que quero baixar.

    Abs!

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  3. Zeca: Seu comentário de historiador com mestrado está num nível intelectual muito alto para um simples graduado, como eu, em COMUNIFAÇÃO - verbete criado por um amigo que junta as palavras Comunicação e Fácil.
    A propósito, também pensei nos Vegans quando escrevi este post. Aliás, será que em São Paulo existe algum restaurante natural que toca hardcore? É bem capaz.
    Quanto ao comentário sobre restaurantes que têm música ao vivo, sinto o mesmo constrangimento que você. Não sou nem um pouco fã, também. Aliás, neste aspecto, ao invés de tocarem Djavan e Geraldo Azevedo, esses cantores de restaurante poderiam tocar HC.

    Christie Boy: Bem legal o vídeo do Pelé. O espírito do texto é exatamente esse presente no vídeo: os produtores podiam ter colocado Jorge Ben, mas optaram por um HC e isso tornou o vídeo diferente.
    Não reconheci a trilha sonora. As únicas bandas finlandesas que conheço são Rattus e Força Macabra (que canta em português!!!!) e o som do vídeo não me pareceu ser de nenhuma delas.
    Valeu a vista.

    Abraços.

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  4. tem um massa também do garrincha com pinball wizard:
    http://www.youtube.com/watch?v=yp9wp9-72HE

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  5. ops, esse é o link: http://www.youtube.com/watch?v=yp9Wp9-72HE

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  6. muito boa pinduca. um dos meus restaurantes preferidos é um italiano que toca rock, indie, os garçons têm cara de cliente, podiam ser amigos da gente, e o cozinheiro não sai do porão pingando suor na sua comida pra te forçar a elogiar a comida cara e marromeno que ele fez (saca aquele da 309 norte?).

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  7. Miguel: Muito legal o vídeo do Garrincha, também. Bem que o diretor Joaquim Pedro de Andrade poderia ter usado essa trilha no filme Garrincha, a Alegria do Povo (rs).

    Luma: Valeu a visita. Saco, sim, esse restaurante que você citou. É o Ninny, cujo dono é o mesmo da boate Boca Negra. Nunca prestei atenção - ou não ouvi de fato - na trilha sonora de lá. Mas a idéia do texto bate bem com esse cenário que você descreveu.

    abraços

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  8. Pois o que me deixa constrangida é dança do ventre em restaurante árabe. Ai que nervoso quando escuto o tilintar das moedinhas sacolejantes se aproximando e aí já não sei se vou em frente na dentada que ensaiava na esfiha ou se elogio o babaganoush da moça. Normalmente, fico paralisada com cara de coalhada seca, esperando aquela pancinha sacudir em outras bandas.

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  9. Que papo é esse de se sentir culpado por comer carne, ... sai dessa. essa galera é tudo meio lerda / lenta . A proteina da carne é importante, PoRRa! Não se sinta culpado Cara, não se sinta culpado. Essa galera deixa de comer carne pra comer Soja. É tudo retardado.
    Só falo uma coisa: NÃO se Sinta CUlpado, tire isso do seu vocabulário. (que bonitinho, rimou)

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  10. Gabi: Haha. Muito engraçado - e bem escrito - o seu comentário. Também me sinto bastante constrangido com a dança do ventre, mas, pelo fato de ser homem, vejo lados positivos na dança também (rs). Tem um restaurante egípcio na 112 norte onde rola exatamente essa imagem que você descreveu. Se vacilar, sua inspiração veio de lá, né?

    Pedro: Seu sangue dos pampas está falando muito alto!!! Na minha opinião, ser vegetariano não é o correto, como muitos pregam, mas uma escolha pessoal. Talvez seja a minha escolha no futuro, ainda não sei. De qualquer forma, também sei que a proteína da carne é necessária na nossa dieta. Como bem diz um grande amigo meu: - Sem carne, sem músculos!!!

    Abraços

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  11. Muito bom, Carlitos. Aliás, suscitou em mim outros tantos questionamentos. Acho mesmo que a maior caretice desse mundo moderno é essa compartimentalização das coisas. As diferenças são muito mais ricas e o mundo de hoje nos permite ter acesso a muitas coisas distintas. Mas irrita ver que as pessoas tendem a absorver tudo em pacotes. E esse papo natureba de não comer carne... questionável! Desde quando o boi é artificial. A gente consome mais química em algumas saladas do que nas carnes. Essa balela de hormônio no frango já me encheu.
    Meu irmão, negócio é curtir a vida... convido para uma feijoada aqui no Rio ao som de Live and Let Die.

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  12. Fala, prof. Casseta (ou marinheiro Loretti?). Beleza? Quanto tempo, hein. Valeu pelo comentário anti-compatimentalização. Pode deixar que o convite para a feijoada ao som de Live and Let Die já está aceito.

    abração.

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