Este espaço foi criado para a exposição de alguns pensamentos sobre música e outros assuntos do cotidiano.
segunda-feira, 12 de outubro de 2009
O inenarrável prazer de assistir a uma banda péssima
Eu tenho um prazer meio sádico que preciso confessar para vocês. Na verdade, nem sei se é tão sádico assim: talvez esteja mais no ramo das esquisitisses ou, como preferem os psicólogos, idiossincrasias. Ou não. Num mundo tão populoso e moderno, onde as pessoas compartilham hábitos estranhos, como organizar flash mobs ou venerar (a novela mexicana camuflada de seriado norte-americano) Grey’s Anatomy, acho que meus prazeres nem são tão diferentes assim. Bom, preciso confessar-lhes antes que eu perca a coragem. Então lá vai: - Eu adoro assistir a shows de bandas péssimas.
Não sei quando essa mania começou: talvez ela venha da mais tenra idade. Só sei que um dia, já adulto, me toquei de que, simplesmente, estava obtendo quase o mesmo prazer ao assistir uma banda ótima ou outra péssima. A princípio, estranhei. Depois, relaxei e passei a me sentir como naquele antigo jogo da Lotto (ou Sena), em que você ganhava o prêmio se acertasse ou errasse feio todos os números sorteados. E, neste ponto, assim como na velha loteria, não existe meio termo no meu gosto musical: para curtir uma banda, ela tem que ser beeeem legal ou esdruxulamente p-é-s-s-i-m-a. Bandas boazinhas, esforçadas, com algum talento ou meio ruinzinhas não fazem mesmo a minha cabeça. Tem que estar em algum extremo da qualidade musical. Bem, acho que deu para entender, né?
A esta altura, acredito que já tenha gente me classificando como um fã inveterado de cultura trash. Mas acho que a história não é muito por aí, não. Vejam bem, eu não sou daqueles caras que colecionam filmes do Ed Wood, do Afonso Brazza ou do Zé do Caixão. Também não me vejo entre essa galera que curte o visual "zumbi" e som meio The Cramps e outras garageiras mais toscas. Meu lance é outro: eu saio de casa para ver bandas boas, mas, no meio de um festival, acabo assistindo sem querer a um grupo péssimo. Neste momento, passo a gostar tanto – ou, às vezes, mais - do conjunto ruim quanto do outro que fui ver. E aí, aquelas músicas horrorosas não me saem mais da cabeça. Começo a especular como os membros do grupo se juntaram, como surgiram as idéias e inspirações daquelas músicas péssimas e, enfim, como eles tiveram coragem de mostrar aquele resultado tão aquém do que consideramos razoável para o público. Neste ponto, ao invés de me enquadrar na galera trash, talvez sinta até mais sintonia com um cara como Frank Zappa, que gostava de músicas mais elaboradas, mas não pôde passar incólume à grandeza de um The Shaggs – classificado pelo guitarrista doidão como “melhor do que os Beatles”.
Mas o que teriam essas bandas ruins de tão interessante? Por que elas conseguem até arrebanhar - em casos raros, como o The Shaggs - uma legião de fãs? Acho que a grande chave desse mistério talvez esteja num conceito muito conhecido, mas pouco praticado entre os artistas: despretensão. Em alguns momentos, chega a ser um alívio assistir a uma banda na qual os componentes só querem se divertir, tocar para meia dúzia dos colegas de serviço ou impressionar suas namoradas. Mesmo que façam tudo, absolutamente tudo errado, às vezes aquela atitude despretensiosa “cheira a espírito juvenil”, como já disse um maluco lá das bandas de Seattle/Aberdeen. Além disso, muitas vezes os caminhos absurdos escolhidos por esses artistas acabam trazendo algo de inovador para o rock, algo que “a moral e os bons costumes da arte” não conseguem mais captar. O que quero dizer é que, contraditoriamente, às vezes as bandas péssimas carregam consigo o melhor do Rock’n’Roll.
PS: Infelizmente, para não gerar possíveis conflitos, protestos e embaraços, não poderei citar neste texto algumas bandas péssimas (ótimas) que já assisti. Só posso dizer que tem uma que começa com a letra “A”, que realmente era péssima. Também há outra, cujo nome se inicia com “O”, que também era incrivelmente ruim. E o que dizer daquela que se inicia com a letra “F”? Ah, são tantas...
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Psycoze!
ResponderExcluirEu tenho uma categoria de música que eu chamo: "tão ruim que é bom", tem rap nacional que eu gosto e acho bom, mas tem uns que eu gosto porquê é muito ruim! Tenho até uma pasta nos meus arquivos só com esse tipo de música. O funk carioca, entre outros artistas, também se enquandram nessa categoria. É bom a gente falar o que pensa, quando achamos que somos meio esquisitos, vemos que temos vários colegas que compartilham as esquisitices.
ResponderExcluirPinduca como sempre genial! Mas esse prazer está acabando, graças aos recursos mais recentes de estúdio...Tem uma grande cantora brasileira de MPB, q na gravação parece até a Gal Costa cantando, mas quando vc vê a mina no Altas Horas e no Jô está tudo 100% desafinado. E eu não perco uma apresentação dela na TV, exatamente por causa disso, contanto que seja ao vivo...E olha q um monte de gente também deve ter esse mesmo prazer, já que ela sempre aparece por aí indicado como melhor cantora...
ResponderExcluirE já que vc falou no Cramps, no meu colégio sempre algum fã do Rush, baluartes da virtuose, vinha me encher o saco pq eu era fã do Cramps e do Ramones, com aquele papo de quando vc vai gostar de música de verdade? ahahahahah
Pinduca, seu pervertido...! hahahahahahahaha... Eu não cara. Eu viro a cara e fico sem graça pelos caras...vou tomar uma cerva, sei lá! hahahahahahaha!
ResponderExcluirFala Pinduca!
ResponderExcluirLegal saber que existem outros parecidos no meio.
Eu tambem sou tarado com bandas ruins. E vou mais alem! Nao so pela despretensao dos caras das bandas... Mas o "afetamento" de certas bandas tambem chama a atencao. Nego fica tao preso dentro do mundo que criou que eh interessante ver ateh que ponto nego consegue chegar, ficar na expectativa do algo mais (de pior) que ainda ha por vir. Nao soh bandas, como filmes trash... Eu sou desses caras fan de cramps e zumbis que tem a colecao do ze do caixao em casa hahaha.
Como voce disse, existem coisas pessimas pessimas e outras pessimas otimas.
Qualeh Zeca! Melhor ainda eh tomar uma cerva vendo a trasheira!
Abracos!
Agora é se perguntar qual o motivo de você estar na platéia caso veja você em um show da minha banda
ResponderExcluireita ferro! boto fé
ResponderExcluire eu que pensava que só eu era assim.
velho, em minha modesta opinião, não há nada mais ridículo que banda de rock em cima do palco e uma platéia aplaudindo. seja banda boa ou banda ruim. eu quando vou a shows fico pensando nisso cara. os caras sobem no palco, ficam tocando, balançam a cabeça, fazem de tudo que é esquisitice e a galera aplaudindo. depois vai todo mundo embora. caralho, é muito escroto cara. e eu adoro! adoro ir pra show bater palma. sinto um prazer bicho...é quase como ter um orgasmo!
uma vez eu vi um show em brasília de uma figurinha famosa aí que, se desse um arroto no palco a galera aplaudiria. e eu aplaudiria junto.
eu acho que o show, como é hoje, tá com os dias contados.
minha banda, por exemplo, MY SISTERS AND ME, já faz diferente...
inclusive fizemos uma versão pra MULHERES do martinho da vila, com uma dinâmica musical completamente new cara, e vamos lançar na nossa próxima apresentação aqui em belém.
é isso aí
Pinduca,
ResponderExcluiressa atração por bandas ruins não é estranha de jeito nehum. Muito menos esquisita. Ela é simplesmente humana. Sim, todos nós, tirante um ou outro anormal, sentimos algum fascínio pelo mórbido.
Creio que a sensação de assistir ao show de uma banda péssima seja a mesma de passar próximo a cena de um acidente de trânsito e desacelerar pra tentar espiar o cadáver. Sadismo? Crueldade? Não. Humano. Aliás, trata-se de comportamento muito mais freqüente do que geralmente se supõe. Acompanhamos reportagens sobre tragédias aéreas com desmesurado interesse. Detalhes sobre os últimos momentos no avião e perfis dos passageiros mortos povoam nossas conversas no café da manhã. E quantos já não seguiram avidamente pela mídia o calvário de alguma celebridade presa de câncer? Pois é. Não gostamos de admitir para nossos pares mas somos fascinados por acontecimentos dessa natureza. Gostar de uma banda ou música ruim também dispara o mesmo gatilho obscuro. Não sabemos explicar direito mas, de repente, dos porões mal iluminados de nossa alma brota furiosa e repentinamente aquela vontade irrefreável de escutar mais e mais.
Sou fã de Caruso, Gigli, Maria Callas, Mozart, Haydn, Elvis, João Gilberto, Baden Powell, Billie Holiday, Coltrane, Chet Baker, Miles Davis, Strokes, The Kinks, Audioslave, The Hives, Kaiserchiefs, Beach Boys e Van Halen mas ficava absolutamente mesmerizado quando soavam os primeiros acordes de "Você não vale nada", do Calcinha Preta, música tema de Norminha (Dira Paes) de Caminho das Índias. Senti emoção similar ao ouvir "Festa no apê" de latino. E lembro-me de ficar excitada quando a banda thrash Twisted Sisters berrava " We ain't gonna take it..." nos meus ouvidos. Relaxemos pois. Ninguém deve se sentir menor porque ouve música ruim de vez em quando. Música ( boa ou ruim de dar dó ) é sempre válida. Afinal, é o que tem, ultimamente, nos diferenciado dos chimpanzés.
Bjs lambuzados...
Débora
Pinduca, sei bem o que é isso. Várias vezes minha mulher acha que eu to pirraçando ela quando ela diz 'que banda horrível" e eu digo "ta maluca, é a melhor banda do festival...".
ResponderExcluirMas tudo tem um limite. Um show daquela banda que começa "C" e termina com "Inicial" é bem difícil de ver até o fim.
Colegas admiradores de bandas horríveis do meu Brasil, muito obrigado pelos comentários.
ResponderExcluirRenato: Psycoze é um clássico mesmo. Não sei se os acho tão toscos a ponto de entrar na minha lista, mas também não os ouço já há algum tempo para emitir uma opinião com mais propriedade. Me amarro na contagem regressiva do vocalista numa música do SUB: 4, 3, 2, 1 (em vez dos clássicos 1, 2, 3, 4 “ramônicos”). Em matéria de punk tosqueira brasileiro, o hors concour para mim talvez seja uma banda que começa com “Ar” e acaba com “dom”, que participou da coletânea Ataque Sonoro.
Chico: Não saco muito de rap e de funk carioca, mas entendo bem o que vc está falando. Realmente, rolam uns artistas que são quase piada de tão toscos. Lembro até hoje daquela “Melô do Gaitêro”, funk trash que os irmão Brito apresentaram para a gente: Toma-Toma-To-To-To-Toma!!! Rodolfo, inclusive, chegou a ir a um show do Latino na época do estouro de “Me Leva”!!!!!
Gabriel: Com certeza, os recursos de estúdio estão nos tirando o prazer de escutar gravações horríveis (como a genial bateria com som de lata de “Haverá Futuro”, do Olho Seco, no disco Começo do Fim do Mundo). Mas, como vc disse, os programas de música ao vivo e os shows têm a nobre missão de manter acesa a chama da ruindade e da falta de talento. Quanto ao lance de ser sacaneado no colégio por causa do gosto musical, entendo bem o seu lado. Comecei a tocar guitarra, em parte, porque um metaleiro virtuoso do meu colégio disse que eu só gostava de Napalm Death para tirar onda, que aquilo não era música - hoje eu vejo que ele não estava totalmente errado (rs).
Zeca: Poxa, vc está muito careta. Entregue-se aos prazeres das bandas péssimas: garanto que vai te dar um “barato” melhor do que a cerveja que vc toma nos shows. Saudades das “canjas” horrorosas na finada Feira de Música...
Léo (Bigode?): Realmente, o afetamento às vezes torna algo mais trash do que a despretensão. Já vi muita trasheira pretensiosa (quase um glam) e engraçadona. Poxa, não sabia que vc era um fã inveterado de cultura trash, não. Depois, tenho que pegar umas aulas com vc sobre bandas horrorosas.
Marco: Não se preocupe, bandas horrorosas são jóias quase tão raras quanto bandas ótimas. Então, o mais comum é rolar bandas medianas, seja para o lado bom ou ruim. De qualquer forma, se um dia você tocar numa banda péssima (e eu estiver na platéia), saiba que virarei seu fã!!!!
Lívia: O público de Brasília é famoso por sua babaquice e postura blasé. Talvez só se compare ao público de São Paulo neste quesito. De qualquer forma, acho que já me acostumei e, às vezes, até gosto dessa postura crítica e babaca do público daqui. Neste ponto, nunca vi muitos aplausos em shows de bandas locais, não. Mas acho que os músicos daqui já estão acostumados a serem esnobados pelos seus fãs (rs).
Débora: É verdade. Nunca tinha pensado por essa ótica da morbidez natural aos seres humanos. No caso das bandas ruins, acho que tem um lado tragicômico também, de vc ver os caras tocando malzão e não ligando muito para aquilo. Também curto “Festa no Apê”, mas tenho um certo problema com o Calcinha Preta (talvez seja o cabelo do vocalista). Não consigo nem ver a banda direito, por causa dessa característica capilar (outra esquisitisse minha).... Como diz um amigo meu: o visual do CP me ‘agrede’ (sic)!!!!
Cury: É verdade. Tudo tem um limite, mesmo. A banda que começa com “C” e acaba com “cial” anda difícil de aturar, assim como a que começa com “Ki” e acaba com “belha”. E tem as novas: a que começa com “N” e termina com “Zero” e a que começa com “F” e termina com “no” são quase insuportáveis (rs).
Abraços a todos.
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ResponderExcluirBixo, tem uma tal de Cine que é demaishhhhh!! É nova. Das velhas não dá nem pra fazer lista, mas tenho muitas aqui em tape, vinil etc...puros petardos! Abs Pinduca
ResponderExcluirAchei que só eu tinha coragem de dizer que gostava daquela música do Twisted Sisters!!!! Também adoooooooooooooooooooro Me Leva e Festa no Apê, do Latino, além dos Beach Boys!!!!
ResponderExcluirEu simplesmente ADORO música ruim. Mas quem diria que você, hein, Carlos? ahahaha
Nao é o bigode não!
ResponderExcluiré o leo japones esquisito mesmo, que tocava numa das bandas trasheira da cidade, primo da Alyne hehehehe!
Blz?
Therje: Conheço a banda Cine: é um fenômeno da ruindade. Essa eu gosto de ver quando passa o clipe na TV!!!
ResponderExcluirThelma: Eu gosto de música boa, mas, como disse no texto, não resisto a uma banda péssima. Twisted Sister rules, assim como as papagaiadas do Latino!!!
Léo: Fala, cara. Legal saber que você passa às vezes por aqui. Valeu pelo comentário. Poxa, vc eu já sabia que curtia umas trasheiras das boas (e das ruins, também)!!!!
Abraços
Agora já rola até uns filhotes do cine. Olha só essa: www.myspace.com/rockrestart. Vale a pena ver!
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