

Já notaram que, de vez em quando, rola uma onda de bandas brasileiras cantando em inglês? Eu estava aqui pensando com meus botões e fiz uma associação sem fundo sociológico, mas que pode ter sentido. Essa onda “for export” começa de forma tímida com o esgotamento artístico de uma geração que canta em português e cresce quando um dos grupos que optam pelo inglês faz sucesso no exterior, voltando a diminuir depois que a geração seguinte emerge entoando novamente versos na língua pátria e resgatando valores nacionais.
Deixem eu explicar melhor essa história, pois acho que já presenciei dois ciclos assim. Se não me engano, o Sepultura começou a estourar no exterior em 1987/1988. Antes disso, existiam poucas bandas que cantavam em inglês no Brasil, as quais nem consigo lembrar no momento (acho que os santistas do Harry, os brasilienses do Spigazul e os paulistanos do Maria Angélica Não Mora Mais Aqui, do jornalista Fernando Naporano, são exemplos). O êxito do Sepultura no exterior marca a proliferação no underground brasileiro de diversos grupos, de estilos diferentes, cantando em inglês: Pin Ups, Killing Chainsaw, Low Dream, Oz, Okotô, Second Come, entre outros. O que incentivou essa proliferação, além do esgotamento da geração anterior (Legião, Paralamas, Titãs e Cia., que já começavam a se repetir)? A sensação de que, se o Sepultura pôde, outros brasileiros também poderiam ultrapassar as fronteiras nacionais, num clima que remete à popular e já desgastada frase do presidente Barack Obama: “Yes, We Can”.
O recente estouro do Cansei de Ser Sexy “na gringa” tem um esquema meio parecido com o do Sepultura, com algumas atualizações: antes do CSS, várias bandas independentes já se aventuravam no idioma bretão (Thee Butcher’s Orchestra, MQN, Mechanics, Madeixas, Supersoniques, Maybees, Forgotten Boys, entre outras), mas o êxito de Lovefoxxx & Cia no exterior trouxe a opção pelo inglês para outro patamar. O sucesso de Mallu Magalhães em âmbito nacional e as recentes indicações das bandas Holger e Black Drawing Chalks a categorias relevantes do VMB, da MTV, mostra que, de certa forma, esses artistas estão sendo levados mais a sério. E, novamente, a mídia e o público voltam a apostar as suas fichas na next big thing brasileira.
Numa época em que eu ainda estava vindo ao mundo, na primeira metade dos anos 1970, dizem que vários artistas também faziam essa opção pelo inglês, entre o quais o galã Fábio Júnior - muito antes de imortalizar o bordão “brigaduuuu” no Cassino do Chacrinha - e os atuais sertanejos Chrystian e Ralph. Até que um maluco chamado Maurício Alberto resolveu traduzir o seu nome, literalmente, para Morris Albert e lançar uma música chamada “Feelings”, que acabou estourando mundialmente - sendo regravada, inclusive, meio jocosamente pelo Offspring há alguns anos. Resultado: outros artistas brasileiros também resolveram seguir os passos de Maurício Alberto rumo ao sucesso no exterior. Mas a onda acabou minguando depois que a sorte parou de aparecer para os pretendentes à nova estrela internacional.
A grande questão é se, com a internet e o crescente domínio da língua inglesa pelas novas gerações, o mercado brasileiro vai abrigar mais facilmente as suas bandas que optam pelo inglês, como já acontece nos ditos países socialmente mais avançados, como Suécia, Noruega ou Holanda. Lógico que, mesmo que o progresso social chegue a estas plagas, a nossa situação talvez nunca fique suficientemente semelhante a desses países citados, até porque, em termos de música popular, temos (ou parecemos ter, pelo menos) muito mais tradição do que eles – o que, por conseqüência, talvez gere um certo apego à nossa língua pátria (ou “mátria”, como diria Caetano Veloso na música “Língua). De qualquer forma, dentro do meu universo especulativo e pouco apegado aos métodos científicos, a minha aposta é que, mesmo que o mercado brasileiro não abra espaço igualitário para os dois idiomas no futuro, essas ondas de bandas cantando em inglês provavelmente ficarão cada vez mais constantes e duradouras.
Aguardemos, portanto, as cenas dos próximos capítulos...