sábado, 31 de julho de 2010

Revista de música ou revista de músico?














Quando comecei gostar de rock, por volta dos meus 12 ou 13 anos, a principal – e quase única – fonte de informação para um jovem curioso por saber mais sobre seus ídolos eram as revistas musicais. Naquela virada de 1986 para 1987, cerca de quatro anos antes da chegada MTV ao Brasil e quando a internet ainda se confundia com ficção científica, era comum nos depararmos com matérias sobre bandas que, mesmo já tendo ouvido, não sabíamos ao certo de qual país provinham ou nunca tínhamos visto uma mísera foto dos componentes. Por serem as detentoras e, ao mesmo tempo, divulgadoras dessas informações, as revistas acabavam carregando um status de oráculo da música e comprá-las soava quase como uma prerrogativa para se penetrar nesse intrincado universo.

Como me tornei um fã de rock antes mesmo de tocar um instrumento, a revista que mais me atraiu inicialmente foi a extinta Bizz. Comandada durante um bom tempo pelo polêmico jornalista André Forastieri, a publicação paulistana trazia informações sobre bandas estrangeiras e brasileiras, novas e clássicas, abrindo espaço até para assuntos relacionados à sétima arte. Mais do que na música propriamente, a Bizz se focava na cultura pop e em seus bastidores, de forma a atingir um amplo público jovem, fosse este formado por músicos ou não.

Aos 15 anos comecei a tocar guitarra e tomei contato com um outro lado dessa moeda: as revistas que se centravam na disseminação de técnicas e na análise de equipamentos musicais (ex: Guitar Player, Cover Guitarra, Modern Drummer, etc) . Nesse caso, as novidades do showbusiness eram deixadas de lado em prol do incentivo ao aprimoramento dos jovens instrumentistas, ávidos por aprender os macetes e fraseados de seus ídolos. Obviamente, por se tratar de um assunto bastante restrito, essas publicações contavam - e ainda contam – com um público mais reduzido, formado quase que exclusivamente por músicos.

Desde que passei a tocar um instrumento, nunca me resolvi muito bem em relação a essa questão entre ser um cara que gosta de saber as novidades do showbizz ou um músico que está interessado em melhorar a sua técnica. Hoje, com o fácil acesso a blogs especializados e “myspaces” da vida, acabei restringindo a compra de revistas musicais às minhas viagens de avião. E, sempre que estou em bancas de aeroportos, me vejo com a mesma dúvida: adquiro a Rolling Stone, para estar mais por dentro das tendências do mundo pop? Ou fico com a Guitar Player, que talvez me traga mais benefícios como instrumentista?

O engraçado é que, invariavelmente, me arrependo da escolha que faço. Se compro a Rolling Stone, acabo achando meio superficial aquele universo em torno dos bastidores do mundo pop. Em alguns momentos, sinto-me lendo uma revista de celebridades – a única diferença é que todos estão vestidos de roqueiros. Para piorar, depois de alguns anos tocando em bandas, já consigo sacar boa parte das entrelinhas das matérias e resenhas publicadas ali. O fato é que, quando se conhece os jornalistas (pessoalmente ou por leitura, mesmo), sabe-se por que algumas bandas têm mais destaque que outras; sabe-se quando o crítico não entendeu o som, mas está simplesmente copiando uma tendência estrangeira; sabe-se, enfim, o que há por trás da formação da notícia e da estruturação daquela revista.

Abre Parênteses. (Quero deixar claro que essas “tramas” não são uma exclusividade da Rolling Stone brasileira - nesse ponto, talvez a Bizz fosse até pior - nem mesmo do mundo musical. Esse tipo de coisa acontece absolutamente em qualquer meio, seja este político, econômico, publicitário ou “surfístico”. O único ponto aqui é que a música é o MEU MEIO e, por isso, consigo ler mais facilmente o que há por trás da notícia, assim como outros entendem dos bastidores dos meios em que estão inseridos). Fecha parênteses.

Se adquiro a Guitar Player, acabo me incomodando com o excesso de tecnicismo, muitas vezes em detrimento da criatividade e do estilo. Realmente, a minha impressão, ao ler a revista, é que estou conversando com vendedores e luthiers das lojas de música da avenida Teodoro Sampaio, em São Paulo. Não que a visão musical desses profissionais deva ser desprezada – pelo contrário, por ser muito rica, deve ser levada muito em consideração –, mas acredito que a abordagem musical possa ser mais ampla, trazendo variáveis ligadas até mesmo às novas tendências e estilo (algo um pouco excessivo na Rolling Stone, na minha opinião).

Caminhando pela tangente, ainda costumo me deparar nas bancas com a revista Bravo!. De conteúdo mais sério, adulto e refinado, essa publicação costuma buscar abordagens diferentes a temas ligados à música e à arte em geral. O problema é que a Bravo! é intelectualóide demais para o meu gosto. Sei lá, pode ser ranço da minha parte, mas a minha impressão é que o público deles é formado por adultos estabelecidos, com mais de 35 anos, que fumam charuto e tomam vinho em casa toda noite. E eu ainda não quero isso para a minha vida, sabe? De certa forma, as revistas que citei anteriormente ainda trazem um cheiro de cerveja ou refrigerante tomados em porta de distribuidora de bebidas – o que, dentro das minha atuais escolhas de vida, parece ter mais a ver comigo.

O fato é que, mesmo com todas as críticas apontadas por mim, sempre encontro informações legais nas revistas citadas. E, não à toa, mantenho-me consumidor delas. Por isso, sinto-me à vontade para falar de suas características, qualidades e defeitos. Na verdade, talvez o problema nem esteja com as publicações em si, mas com a eterna insatisfação deste que vos escreve.

10 comentários:

  1. com certeza, Marlos. cansei de ler crítica de um mesmo disco na Modern Drummer e numa dessas mais gerais e ver o quanto cada uma puxa a sardinha para seu lado. um disco do Dream Theater, por exemplo, ganha 5 estrelas na primeira e, na segunda, é motivo (com razão) de chacota :)))))

    no final, eu acho, a gente tem meio é que pegar o que nos interessa e seguir adiante. como vc sabe, eu compro a MD desde os tempos de escola, mas tem umas 15 páginas no meio (sobre técnica e dicas de exercício) que são ignoradas há duas décadas.

    mas, só para registrar: é mais fácil de entender uma matéria mostrando a grandeza de passar 20 horas por dia treinando um instrumento do que aquela seção da Rolling Stone em que o artista explica peças do seu guarda-roupa.

    abs
    Txotxa

    PS. Curti o novo layout do blog.

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  2. Pinduca, penso que hoje em dia tanto uma revista como a outra são completamente desnecessárias.
    Antigamente, nos idos dos anos 80 e 90, quando o acesso a certos discos era privilégio para poucos, um critico ainda tinha a sua importância. Por ele ter esse acesso, ela era o responsável para nos dizer se valia a pena ou não comprá-lo. Hoje, qualquer lançamento está disponível para qualquer um, e cabe a qualquer um dizer se gosta ou não. Não precisamos mais de críticos. Ainda bem.
    E revista como a RS nada mais é que uma revista de variedade, como você bem citou acima, pois é isso o que vende. Com o perdão do trocadilho, vejamos a Veja. Essa semana, na capa, vemos no alto uma notinha dizendo sobre supostas falcatruas do PT com a Portugal Telecom. E embaixo, em quase 90% de capa, o assunto era “10 regras para fazer uma lipo segura”. Ora, bolas, essa capa e esse título podiam muito bem estar nas capas de Boa Forma, Nova... e outras revistas de saúde e beleza.
    Quanto as revistas de músicos, até cheguei a ter algumas, mas sempre achei o texto vazio, sem alma... De repente, como são os músicos “viciados” SÓ na técnica.
    Vê se não some por mais tempo.
    Abração,
    Cury.

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  3. é por isso que sempre me liguei mais nos zines punks. prefiro ver as tosquices do tupazine do que ler essas revistas de merdas do caralho.
    Pinduca, volta a banda . volta ?

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  4. Taí, apontou uma das poucas utilidades de uma revista atualmente. Eu também só compro em aeroporto. Mas não fico em dúvida, vou direto na Placar, hehehe.

    Acho que a última revista de cultura pop que prestou foi a General. A Rolling Stone é uma Contigo! disfarçada, lembra aquela fase Showbizz da Bizz...

    Abs

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  5. Gostava da revista Ponto Zero, Outra Coisa e Bizz. Meu carinho especial era por esta última, sabe? Sempre que dou uma geral no meu quarto, abro mão de um monte de coisas, mas a coleção da Bizz - desde os anos oitenta - fazem parte da minha vida. Rolling Stones eu até adquiri os primeiros números, porém tava ocupando muito espaço e eu tinha pena de jogar fora. Conclusão: cheguei no E.C.R.Russo e deixei lá as revistas usadas. Rolling Stones nunca mais (revista; que fique bem claro).

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  6. shit! Esqueci novamente, Carlos Pinduca - essa aí de cima sou eu: Leocádia Joana.

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  7. Pinduquinha fofo do meu coração, entendo completamente a sua dificuldade em encontrar títulos que atendam aos seus anseios. Sinto-me completamente desamparada também por conta do sumiço da Bizz, uma das revistas mais legais de todos os tempos. Pra quem adora música o título mais próximo que temos à disposição é a RollingStone mesmo. Por outro lado, em meio ao lodaçal de baixarias editoriais que transbordam de nossas bancas de jornais hoje em dia, existe uma revista que não é sobre música mas é inteligentíssima: a Piauí. Inspirada na consagrada The New Yorker, a Piauí com seu conteúdo sofisticado e superbamente escrito deve ser lida por qualquer brasileiro minimamente interessado em informação qualificadíssima. A revista só espanta mesmo aqueles cabeças de bagre que dizem sentir falta de figuras em suas páginas. Afffe! Bem, é isso. Ótimo texto, amoreco.

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  8. Pessoal,

    Desculpem a demora nas respostas aos comentários. Por incrível que pareça, ainda não me adaptei à minha nova rotina, o que me tem feito deixar, infelizmente, o blog meio de lado. Assim que puder, volto a regularizar as postagens e respostas aos comentários.

    Txotxa: Quando citei a Modern Drummer no texto, lembrei exatamente de você. Também já vi muitas vezes essa discrepância de crítica a um mesmo disco na Bizz e na Guitar Player. Chega a ser até engraçada a existência de mundos musicais tão diferentes. E, nesse ponto, concordo com o fato de pegarmos o melhor desses dois mundos. Quanto à parte de moda da Rolling Stone, não tenho nem o que comentar (rs).

    Cury: Concordo com grande parte do que você falou. Realmente, a disponibilização de conteúdo (jornalístico e musical) mudou tanto nos últimos anos, a ponto de não precisarmos mais do aval das revistas de música para irmos atrás de um disco. Basta procurarmos por esses álbuns na rede e tirarmos nossas próprias conclusões. Agora, ainda acho que as revistas e blogs de música ajudam a nos poupar nessa busca por bons discos. Afinal, a tarefa do crítico musical é ouvir discos, o que faz com que ele tenha um tempo disponível e acesso aos álbuns muito maior do que o nosso. Além disso, sempre rola um crítico com o qual temos mais afinidade, aquele que costuma nos dar boas dicas. Então, acho que as publicações musicais ainda têm o seu papel, embora, como disse, concorde com a sua visão de que elas são cada vez menos imprescindíveis. Sobre a sua predileção a revistas de música (às de músico), seu gosto bate com o meu. Também li muito mais a Bizz do que a Guitar Player. Mas, de vez em quando, gosto de trafegar nesse outro mundo da técnica musical.

    Léo Bigode: Hahaha. Zine punk é maneiro, mesmo. Também curto vários, embora às vezes me canse do cunho de manifesto da maioria deles. Mas que são engraçados e divertidos, isso são. Sobre voltar a ter banda: tô mais devagar do que gostaria, mas, sei lá, pretendo recomeçar assim que puder e tiver pilha.

    Renato: É verdade. Às vezes, o excesso de variedades da Rolling Stone a faz ficar parecida com a infeliz fase "showbizz" da Bizz. Boa dica essa sua de comprar a Placar no aeroporto, em vez de revista de música. Vou ver pratico isso na minha próxima viagem.

    Leocádia: Também tenho um carinho especial pela Bizz, pois foi a revista que me ajudou a ingressar no mundo musical. Quando meus pais mudaram, doei todas a um amigo. A minha redenção foi o relançamento de todos os números em DVD há alguns anos. A propósito, achei legal a sua iniciativa de doar os números da Rolling Stone ao Espaço Cultural Renato Russo.

    Débora: Valeu pela dica da Piauí. Acho-a também uma excelente revista e, sempre que posso, dou uma lida em suas páginas. Só não sou leitor mais assíduo da Piauí, porque, realmente, não sou tão chegado a esses temas políticos. Mas, de resto, curto desde os quadrinhos até os textos sobre cultura em geral. Quanto a Bizz, sinto o mesmo desamparo que você. Acho que, apesar de a Rolling Stone ser uma boa revista, ainda não conseguiu preencher essa lacuna deixada pela Bizz.

    Abraços a todos (e desculpem novamente pela demora numa resposta).

    Pinduca

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  9. Grande Carlos, minha mulher encontrou com vc na rua hoje e logo em seguida me ligou. Procurei vc no facebook, mas nada! No google dei mais sorte, uma matéria sobre o rock paraense (?!) tinha o link para o seu blog.

    Lembrei dos bons tempos da FAC, quando a gente conversava sobre música e trocava impressões sobre as bandas. Ainda tenho um CD do Beastie Boys que comprei por uma dica sua, e curto muito "Il Communication". Isso foi na pré história da internet, antes da revolução do mp3.

    Nessa época e um pouco antes a onda era assistir a MTV de madrugada, quando o lado comercial da emissora ia dormir e rolava muita coisa diferente, experimental. No outro dia encontrava com o companheiro Luciano Coutinho, corria para as lojas de discos de vinil do Conic e sebos da vida procurando discos daquelas bandas que chamavam atenção.

    Antes ainda foi a época da revista Bizz, que fora o mainstream que ocupava a maioria das páginas da revista, tinha sempre alguma dica de bandas interessantes e cultura pop/ rock / hard/ metal. Curti demais a revista e muitas vezes ficava indignado com matérias louvando bandas que eu achava uma b... outras vezes exultante por saber que alguém mais curtia e aprovava algum som que eu achava que era a única pessoa no mundo que conhecia.

    Hoje em dia é tanta informação na internet que a gente nem sabe por onde começar. Curto o visual da Rolling Stones mas raramente compro. Apesar de tocar guitarra e conhecer um pouco da teoria musical, nunca tive paciência para as tecnicidades da Guitar Player. Quando eu viajo de avião estou sempre acompanhado de uma boa companhia, um bom livro ou me preparando para um doce sonho etílico.

    Grande abraço, companheiro
    Marcio Horta

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  10. Ob Boazona! Tenho sentido a falta dos teus comentários...
    Um beijinho
    :)))

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