sexta-feira, 29 de janeiro de 2010

A MPB e seus discos com timbres horripilantes nos anos 80














Um pouco antes do Natal, dei-me de presente o conserto da vitrola aqui de casa. Já estava sem ouvir discos de vinil há um punhado de anos, pois meu antigo som simplesmente enferrujou todo por dentro e o “novo” – comprado de segunda-mão pela minha amada companheira – quebrou uma semana depois de conhecer seu novo lar. Após uns dois anos de enrolação, resolvi botar a mão na massa – quer dizer, no bolso – e levá-lo a uma oficina de eletrônicos no final da Asa Sul, a qual, cumprindo os mandamentos da “Lei de Gerson”, acabou cobrando um preço alto por um serviço aparentemente simples.

Resolvida a novela do conserto da radiola, fui voltando tímida e lentamente a ter contato com os meus discos de vinil. Neste ponto, vale explicar que não sou daqueles fetichistas que idolatram os bolachões-de-sei-lá-quantos gramas, por possuírem mais graves e a capa grande de 31cm x 31cm, coisa e tal. Pelo contrário, tenho uma certa desconfiança em relação a esses puristas e chego a apostar que 50% das pessoas que sustentam tal discurso não sabem nem o que estão dizendo - simplesmente, voltaram a ouvir vinil porque é moda. E, aliás, cá entre nós, tem coisa mais chata do que ficar mudando o lado do disco a cada 27 minutos? Se existe uma revolução, ela se chama MP3, na minha humilde e contestatória opinião.

(Tá, mas vamos deixar meus dramas de lado para começar a porcaria dessa postagem. Aliás, já notaram o meu enorme ‘talento’ para nunca ser direto? O que era para ser uma abertura simples de texto acaba se tornando quase que uma descrição de personagem do livro ‘O Guarani’, de José de Alencar. Poxa, como todos já leram no título, essa postagem se presta a falar dos timbres horripilantes da MPB nos anos 80, mas, simplesmente, não consigo entrar no tema...)

O fato é que voltei a ouvir meus LPs. Modéstia à parte, devo confessar que, se o meu acervo é mediano do ponto de vista quantitativo, no lado qualitativo o considero razoavelmente rico. Nele, pode-se encontrar, por exemplo, um 3 Feet High and Rising, do De La Soul, ao lado de Please to Meet Me, do Replacements; ou um Extra Texture, de George Harrison entre vários do Led Zeppelin e do The Clash; Doolittle, do Pixies, está encostado no New Tradicionalists, do Devo, que, por sua vez, faz fronteira com What’s Going On, de Marvin Gaye, seguido por High Energy Plan, do 999, e por aí vai. Saindo da praia estritamente roqueira, há também diversos bolachões legais de música brasileira - alguns comprados e outros herdados de parentes - que vão de Lupicínio Rodrigues a João Bosco; do maestro soberano da bossa nova Tom Jobim aos tropicalistas Caetano Veloso e Gilberto Gil; do samba rock de Jorge Ben às crônicas urbanas de Noel Rosa e de seu discípulo Chico Buarque, entre outros.

Nessas minhas empreitadas pelo terreno fértil da MPB, além do imenso talento de nossos compositores, pude reparar uma característica não muito positiva na indústria fonográfica nacional: os timbres horrorosos dos discos gravados nos anos 80. Essa percepção, já existente desde a minha adolescência, tomou uma dimensão maior e mais amadurecida a partir da audição, há alguns dias, do álbum Luar (A gente precisa ver o luar), lançado em 1981 pelo compositor baiano Gilberto Gil e que marca o início de sua parceria com o produtor Liminha. À medida que o long play rodopiava na vitrola, ficava estarrecido como a caixa de bateria soava magra, como os instrumentos e a voz “brilhavam” mais do que o necessário, como a presença dos sintetizadores (tocados pelo bam-bam-bam Lincoln Olivetti!) era exagerada e como, enfim, a escolha equivocada dos sons de grande parte dos instrumentos ajudava a esconder a qualidade daquelas composições.

A partir daí, comecei a lembrar de faixas gravadas por artistas da MPB na década de 1980 que possuíam “desvios de conduta” muito parecidos com os apresentados no disco Luar. Vieram-me à cabeça timbres tenebrosos, como os do roquinho magro Punk da Periferia (do disco Extra, de 1983), de Gilberto Gil, uma espécie de afronta ao estilo criado por Chuck Berry & Cia, que não se salva nem com a participação do talentoso Lulu Santos nas guitarras. E o que dizer de Eclipse Oculto (Uns, de 1983) e Podres Poderes (Velô, de 1984), de Caetano Veloso, que poderiam servir de matéria-prima para uma aula do curso de produção musical – neste caso, de como nunca se gravar um disco - na renomada faculdade de Berklee, nos Estados Unidos? A música Lilás (do disco homônimo, de 1984), de Djavan, mesmo que gravada no exterior com músicos brasileiros e estrangeiros de primeira linha, é outra a chamar a atenção pelos teclados de gosto bastante duvidoso.

Neste momento, uma pessoa mais ligada em estilo poderia me dizer que os pedais de guitarra Flanger, Chorus e Phaser, os sintetizadores, as caixas de bateria mais magras, os baixos estalados e os famigerados solos de sax alto são produtos típicos dos anos 80, seja no Brasil ou no exterior. Portanto, essa estética encontrada nas músicas dos artistas de MPB só estava sintonizada com uma tendência mundial. De fato, isso explica muita coisa, mas não tudo. Na minha opinião, a questão é que, nos discos de MPB, essa fórmula foi, digamos, mais mal aplicada do que no resto do mundo – ou, sendo mais específico, nos EUA e na Inglaterra. Isso porque, por mais que os nossos músicos tenham incorporado a guitarra à música brasileira (desde a Jovem Guarda, passando por Mutantes e Novos Baianos), a tradição da dita MPB é quase que exclusivamente baseada no esquema voz e violão de cordas de nylon. Prova disso é a veneração dos tropicalistas pelo “gênio indomável” da bossa nova João Gilberto.

Ao ouvirmos os discos de música brasileira dos anos 70, notamos que, apesar de a estrutura de estúdio ser claramente mais modesta, os timbres e arranjos parecem ter mais estilo e ser, de certa forma, mais compatíveis com o “swing” - essa palavra é muito escro** - da nossa MPB: baixos graves, baterias “cheias”, etc. Tudo bem que rola uma ou outra coisa miserável, tipo o timbre da guitarra do solinho de Réu Confesso, de Tim Maia (pedal Fuzz ligado diretamente na mesa de som, que, de tão esquisito, virou cult), mas, em geral, o resultado em matéria de timbre nos anos 70 parece ser mais adequado e ter mais personalidade do que o da década seguinte. Basta ouvir discos legais, como Expresso 2222, de Gilberto Gil (1972), Tábua de Esmeralda, de Jorge Ben (1974) e Cinema Transcedental, de Caetano Veloso (1979), para concretizar essa visão.

O problema é que, na virada para os anos 80, o crescimento da pop music e do rock parece ter influenciado nossos compositores a caminharem rumo ao que era considerado moderno à época. Vem daí a busca pela sonoridade mais eletro-eletrônica e a batida mais reta. No entanto, como os artistas não tinham tanto conhecimento desse tipo de som e suas próprias composições se originavam de um lado mais acústico e ritmado, os resultados ficaram meio artificiais. Afinal, existe algo mais contraditório do que Caetano Veloso tocando violão ovation de nylon no videoclipe do pseudo-rock Podres Poderes? Neste ponto, nem a produção de feras como Liminha (e seu assistente de produção à época Chico Neves) nos discos de Gil, e do norte-americano Erich Bulling, no disco Lilás, de Djavan, conseguiu ajudar nossos artistas a terem um resultado sonoro mais aceitável.

O disco Estrangeiro, lançado por Caetano Veloso simbolicamente no fim da década de 1980 (precisamente, em 1989), trouxe novos ares para a produção musical brasileira. Capitaneado pelos norte-americanos Peter Scherer e Arto Lindsay (este último criado em Pernambuco), membros da banda experimental Ambitious Lovers, o disco muda completamente a forma de tratar os timbres e a execução dos instrumentos: o pop rock passa a dar lugar a algo mais cerebral; os solos dos instrumentos são trocados por execuções mais sóbrias, contidas; os próprios timbres perdem o excesso de brilho e passam a ser mais secos. Apesar de soar meio chato e cabeçóide na maioria do tempo, Estrangeiro traz de volta para os trilhos uma personalidade que havia se perdido desde a década de 70.

De qualquer forma, não se pode negar que os anos 80 foram um período rico em matéria de composições e da própria exposição dos artistas da MPB. Mercadologicamente falando, foi a década que deu estabilidade à carreira desses músicos. É uma pena que os timbres não estejam exatamente à altura das canções.

quinta-feira, 21 de janeiro de 2010

A encruzilhada dos 'Guidis'


A banda gaúcha Superguidis lançou nesta semana um single, composto por três músicas, que abre as portas para a chegada do seu terceiro disco, em março, pela gravadora Senhor F. Já tinha escutado algumas das novas canções nos shows que eles fizeram em Brasília no ano passado, mas não havia conseguido “interiorizá-las” ainda. Geralmente, preciso de mais de uma audição, de preferência no aconchego do meu lar, para sacar o que uma composição oferece aos meus ouvidos (que frescura, né?).

O fato é que os Superguidis são uma banda suficientemente relevante para que a chegada de um disco gere uma certa expectativa e seja fruto de comentários entre seus admiradores (nos quais me incluo), principalmente aqui em Brasília, espécie de segunda casa dos gaúchos de Guaíba. Dona de dois ótimos discos (com destaque para o primeiro) e de shows arrasadores, a banda conta com uma dupla de compositores-guitarristas inspirados, uma cozinha pra lá de competente e um vocalista com afinação e timbre foras de série.

Pela amostra que ouvi nos shows e do que saquei agora pelo single, está clara a intenção de dar novos rumos ao som e chacoalhar um pouco a fórmula “cozinha reta e guitarras entrelaçadas influenciadas por Guided by Voices e Pavement”, que orientou os dois primeiros álbuns da banda. Agora, as referências parecem mais amplas, englobando desde canções levadas ao violão até um lado mais esporrento do grunge (talvez a maior influência do vocalista/compositor Andrio Maquenzi).

O single é composto de duas músicas inéditas – “Não Fosse o Bom Humor” e “Visão Além do Alcance” – e uma versão acústica de “Malevolosidade”, hit do primeiro disco da banda. Se em uma primeira escutada, as canções inéditas parecem não se diferenciar tanto assim das músicas dos discos anteriores, mais atentamente pode-se obter pistas significativas para algumas mudanças no som da banda.

Não Fosse o Bom Humor”, num antagonismo com o título, parece trazer uma letra mais séria, deixando para trás a ironia juvenil e pra cima dos álbuns anteriores. O som também parece mais direto, num jogo de guitarras um pouco menos torto a la Stephen Malkmus e mais “superfuzz bigmuff”. Os riffs espertos, certeiros e pegajosos, tão característicos dos Guidis, continuam lá guiando a música, mas um pouco menos na cara.

Já “Visão Além do Alcance” traz o lado baladeiro já revelado em canções dos álbuns anteriores, como “O Banana” e “6 Anos”. A música se inicia com um bordão puxado de guitarra, numa afinação que parece ser na nota (em vez do tradicional Mi) – para quem não conhece, vale explicar: a banda é “mestra” em mudar afinações – e os instrumentos entram em seguida, compondo o tradicional entrelace sonoro dos Guidis. Um ataque de toda a banda anuncia a estrofe, que é cantada sobre uma base meio “solta”. O chão da música volta entre as estrofes e se reforça no refrão. Quando se acha que pegou a música, ela nos surpreende com a entrada de cordas onde normalmente seria o solo de guitarra.

A versão acústica de “Malevolosidade” vem para provar a popularidade da banda no underground: a partir da segunda estrofe, quem canta é a platéia, que leva a música até o fim. Aficcionados por música independente que são, os Superguidis recorrem à escola indie para manter de forma criativa e irreverente na mesma faixa tanto os aplausos e a conversa com o público quanto uma segunda versão da música, desta vez cantada de cabo a rabo pelo vocalista Andrio.

De fato, os Superguidis conseguem unir qualidade e (potencial de) popularidade, algo raro no rock brasileiro atual. No entanto, o que parece ser o melhor dos mundos à primeira vista, acaba colocando a banda numa encruzilhada. O problema é que talvez eles precisem ampliar o seu público para se profissionalizarem (no sentido financeiro e prático da coisa). Bala na agulha e carisma para isso o grupo tem de sobra, mas talvez precise fazer certas concessões para penetrar no duro jogo do mercado musical.

Por outro lado, podem negar a crueza do mercado e se fixar somente na música. Mas, caindo na realidade, até quando uma banda consegue se manter junta sem retorno financeiro? Ainda mais jovens como são, a tendência é que as futuras profissões ditem os rumos de suas vidas, caso deixem a música somente como hobby.

Obviamente, há uma terceira via, mais equilibrada talvez, que faz com que uma banda “vença” pela consolidação de sua obra. Então, o que restaria seria ter paciência, tranqüilidade e ir lançando os discos de forma despretensiosa até que a coisa tome pernas. Mas, sinceramente, acho que isso quase tão raro e imprevisível quanto ganhar na loteria. Até porque uma banda é composta por vários membros (os Guidis são quatro), que tendem a mudar seus desejos e necessidades ao longo dos anos.

Ainda não ouvi o terceiro disco inteiro do Superguidis e não sei para que lado, ao certo, apontam as mudanças que senti no single. Estarão eles mais pops ou mais herméticos? Mais sérios ou conservarão um pouco da sua ironia juvenil? E de onde viria exatamente essa mudança: de uma necessidade interior ou de algo mais direcionado para o mercado? Pelo que conheço dos caras, sempre me chamou a atenção em seus perfis apenas uma boa e salutar ambição artística – nunca financeira ou mercadológica. Por outro lado, o verso que fecha, de forma meio melancólica, a música “Visão Além do Alcance” talvez entregue um pouco do dilema vivido pela banda neste momento: “Com tanto artifício assim, é difícil ser você mesmo”.

Do meu lado, torço para que os Superguidis continuem sendo eles mesmos - embora saiba que a batalha seja dura.

quinta-feira, 14 de janeiro de 2010

O “verdadeiro” espírito do rock


Quando ainda fazia terapia, há cerca de um ano, numa das tresloucadas e, às vezes, existenciais conversas com meu psicólogo, fui questionado sobre o que simbolizava o rock para mim. Depois de uma breve vasculhada na mente, respondi que o verdadeiro espírito do rock estava associado a uma imagem que assistira naquela semana: dois adolescentes atravessando a pé, à tarde, o Eixão - gigantesca avenida de Brasília - conversando e carregando nas costas seus instrumentos musicais.

A minha explicação para a relevância daquela cena estava ligada à pureza que ela transmitia para mim: aqueles garotos pareciam estar descobrindo a música, tocando por prazer, sem que a banda lhes desse algo em troca; na sua rotina juvenil, tinham tempo livre para conversar (sobre música e outros assuntos) e o rock, provavelmente, seria apenas um meio para celebrar a sua amizade. É obvio que, sem conhecer aqueles adolescentes, muitos daqueles sentimentos seriam apenas frutos de uma projeção da minha parte. Mas, sem querer bancar o Freud, acho que a imagem vista por mim simboliza uma relação pura pela qual a maioria dos músicos já passou.

Devo confessar que sinto uma certa emoção quando leio histórias sobre os primeiros encontros dos membros de bandas de rock consagradas e/ou que gosto. Para mim, é como se esses momentos carregassem consigo o verdadeiro espírito do rock – se é que essa “entidade” existe. Acho legal saber, por exemplo, que, por trás de uma carreira regada a excessos dos bad boys Rolling Stones, existe um singelo encontro entre os jovens Keith Richards e Mick Jagger em uma estação de trem em Dartford, a caminho de Londres. Reza a lenda que Richards teria avistado o ex-colega de jardim de infância, Jagger, carregando discos de blues debaixo do braço, o que teria motivado o guitarrista a abordar o futuro vocalista de sua banda.

Assim com o primeiro encontro dos compositores dos Stones, existem muitas outras belas histórias no rock, como a do dia em que Paul McCartney impressionou John Lennon, ao tocar na guitarra a música Twenty Flight Rock, de Eddie Cochran, ganhando seu passaporte para integrar a banda de colégio The Quarrymen, espécie de embrião dos Beatles. Ou, trazendo para uma realidade brasileira e mais atual, é legal notar que os membros dos aclamados Los Hermanos começaram a banda despretensiosamente a partir de uma amizade surgida nos corredores da PUC, no bairro da Gávea, no Rio de Janeiro, ou que os brasilienses do Bois de Gerião, ainda garotos, se juntavam para tocar ska e punk rock na sobreloja de uma locadora de vídeo, na 308 sul.

Por mais que cresça e ganhe fama, dinheiro e mulheres, muito da essência que uma banda carrega vem desses primeiros encontros. De certa forma, conhecer a fase de germinação de um grupo é quase como ter acesso ao seu DNA: lá estão as referências musicais mais profundas e as relações pessoais mais honestas e verdadeiras entre os membros. E, mesmo havendo outros momentos grandiosos e criativos ao longo da carreira, é naquele início onde estão as células-tronco capazes de salvar a música dessas bandas em momentos de enfermidade (causadas, na maior parte, pelo ludibriante mundo do showbizz).

Não quero, com isso, fazer uma ode à ingenuidade ou à alienação, tão comuns à juventude. Na verdade, sei que muitas das grandes conquistas da vida vêm com a maturidade, com o progressivo movimento de conhecer a si mesmo. E admito que, quanto mais avanço na idade, mais admiro obras feitas por artistas maduros, que trocaram a mera manifestação hormonal por uma abordagem mais cerebral. No entanto, o que quero dizer bate um pouco com aquele pensamento que fala sobre as pessoas não deixarem de lado a criança que existe dentro de cada um. Por um lado, talvez isso funcione com bandas de rock também: uma vez que os músicos se entregam totalmente ao lado duro e demasiadamente adulto da vida, parecem, ao mesmo tempo, estar jogando fora uma parte importante de sua essência.

Quando o Prot(o) acabou, há cerca de dois anos, sentia uma desmotivação quase anciã com meio musical, como se eu fosse uma espécie de precoce dinossauro do rock independente (poxa, eu só tinha 33 anos!): em meio a preocupações com fechamento de shows, capas de discos, aluguéis de estúdio, contatos com a mídia e com produtores nos bastidores dos festivais, havia deixado meio de lado o que tão e somente havia me atraído para aquele mundo: A MÚSICA (com letras maiúsculas mesmo). Não vi isso acontecendo só comigo, mas com muitos outros amigos que se aventuravam a levar a vida musical um pouco mais a sério. E, com poucas exceções, o que observei foi a paixão e a inocência juvenis dando cada vez mais espaço para uma relação fria, burocrática e, às vezes, cínica com o seu maior objeto de paixão.

Talvez por ter submergido tanto neste oceano obscuro da não-música é que a simples imagem de dois garotos atravessando a avenida com seus instrumentos nas costas tenha soado tão forte e libertadora naquela tarde de um fim de semana qualquer.