quarta-feira, 23 de dezembro de 2009

Feliz Metal (e um próspero Ano Novo)


Aproveitando a chegada das festas de fim de ano, deixarei este blog em recesso até a primeira — ou, dependendo da preguiça, segunda — semana de janeiro. Como anuncia o cartaz que estampa esta postagem, desejo a todos um Feliz METAL e um próspero Ano Novo (do Calendário Maia?).

Como muitos, não gosto dessa época do ano, não: acho tudo demasiadamente melancólico e repleto de obrigações sociais (comprar presentes para a família em shoppings lotados, ceias tardias e sonolentas, festas chatas de reveillon em que todos se fantasiam de médico, etc, etc). Isso sem contar com a trilha sonora regada a sinos e corais — isso me faz lembrar de um amigo que não gostou do Pet Sounds, do Beach Boys, por considerar as músicas muito natalinas — e reuniões de trabalho com a famigerada brincadeira de amigo-oculto. Tudo bem que existe um lado bom nessa história toda: a folga no trabalh... quer dizer... o sentimento de comunhão entre as pessoas. Neste ponto, apesar de não ser dos mais religiosos, a minha impressão é que a comemoração do nascimento de Cristo — motivo pelo qual se celebra a data — fica meio que em segundo plano neste período.

Continuando com minhas lamúrias natalinas, devo confessar que, depois de ir a alguns shoppings procurar um colchão novo para tornar o meu sono um pouco menos agitado, já estou de saco cheio de ouvir falar das maravilhas do tal pillow top de VISCOELÁSTICO, a aclamada tecnologia desenvolvida pela NASA. Isso me leva a refletir: será que, por ser sempre noite no espaço sideral, os astronautas tendem a dormir mais? E, de repente, por essa razão, a NASA, com tantas descobertas relevantes para fazer, como a busca de água em Marte ou o efeito da radiação solar em Mercúrio, optou por deslocar um importante grupo de cientistas só para desenvolver novos tipos de ... colchões e travesseiros? Sei lá, na minha cabeça, o sono estaria em último lugar na lista de prioridades de um astronauta que acabou de fazer sua primeira viagem ao exterior (da Terra, neste caso).

E o que dizer da febre do algodão egípcio de trocentos fios? Pelo que lembro dos meus tempos de escola, o Egito só possuía terras cultiváveis às margens do — gigantesco, é verdade — Rio Nilo. Então, não parece possível, do ponto de vista geográfico, o país ter se tornado produtor do algodão utilizado em todos os lençóis do mundo. E por que essa paranóia do número de fios, de uma hora para outra? Até alguns anos atrás, as pessoas só se preocupavam se o lençol esquentava muito ou não, se era verde, vermelho ou florido. Mas, agora, ninguém dorme com nenhum pano que não tenha menos que 200 fios. Isso também não faz muito sentido, na minha opinião, e, provavelmente, na do líder indiano Mahatma Ghandi, se estivesse vivo.

Posso dizer que o meu alento neste desgastante período natalino foi ter sido atendido por cientistas – ou eram vendedores vestidos de cientistas? Caramba, acabei de descobrir a farsa - na loja de uma famosa marca de colchões. Brincadeiras à parte, a pergunta é: será que, ao instituir o uso de jaleco aos vendedores, o dono da loja realmente achava que iria conferir credibilidade à marca? Será que existe a possibilidade de algum cliente maluco cair nessa também tresloucada estratégia de marketing? A linha de pensamento do cliente incauto deve ser: — Eu só compro colchões aqui, pois estou sendo atendido por cientistas, que têm a real capacidade de resolver os meus problemas de sono.

No meio de tantos questionamentos, reclamações e chateações, só me resta tomar um Frozen Yogurt com “topping” de lichia, respectivamente o sorvete e a fruta do momento, para refrescar as idéias.

Feliz Natal, um 2010 repleto de rock'n'rooooooll e até o ano que vem.

PS: A foto do pitoresco cartaz que ilustra o post foi tirada por um grande amigo na comercial da 516 sul, em Brasília. Infelizmente, não pude comparecer ao evento, mas, pelas atrações, posso dizer que o bicho deve ter pegado por lá.

terça-feira, 15 de dezembro de 2009

Raul Seixas, ídolo dos mendigos


Na noite do último dia 3/12, assisti na Rede Globo ao programa Por Toda Minha Vida, dedicado ao cantor e compositor Raul Seixas. Em 21 de agosto deste ano, completaram-se duas décadas que o grande roqueiro baiano nos deixou e o programa conseguiu resgatar muitos fatos interessantes de sua vida, por meio do depoimento de amigos (como o parceiro Paulo Coelho) e familiares (as três filhas e duas ex-esposas do cantor).

Não sou exatamente um fã devoto de Rauzito, mas posso dizer que gosto (do que conheço) de sua obra e até guardo simpatia por sua personalidade. Nessas minhas incursões superficiais pelo universo “raulseixiano”, pude observar um aspecto intrigante no legado deixado pelo cantor: Raul Seixas se tornou uma espécie de ídolo dos mendigos. Comecei a notar essa peculiaridade há quase quinze anos, quando meus companheiros do Maskavo Roots e eu paramos o carro em um sinal (ou farol?) perto da avenida Rebouças, em São Paulo. Um morador de rua veio em nossa direção pedir esmola e, quando viu nossos instrumentos, nos disse animadamente: — Vocês são músicos? Então, devem gostar de Raul Seeeiiixas. É aí, ele começou a cantar o sucesso Gita (1974), fazendo um movimento de air guitar com as mãos. Depois desse episódio, passei a notar vários outros mendigos – refiro-me àqueles que não têm necessariamente origem pobre, mas, por diversas questões, passaram a viver nas ruas e à margem da sociedade – com o repertório de Rauzito na ponta da língua, inclusive um que cantava na saída da minha formatura de faculdade.

Mas de onde vem essa empatia entre Raul e os moradores de rua? Acredito que o visual do roqueiro baiano já dê pistas sobre tal fenômeno: a barba mal feita, as roupas meio envelhecidas e/ou em tom marrom e o cabelo desgrenhado fazem com que o parceiro de Paulo Coelho seja uma espécie de imagem e semelhança dessa peculiar facção do seu público. Isso faz com que o roqueiro baiano adentre um terreno no qual galãs, como Roberto Carlos, Fábio Jr. e Brian Ferry - caras que costumam cantar de terno e barba feita – nunca conseguiriam.

Porém, mais determinante do que o próprio visual talvez seja o conteúdo das canções de Raul: músicas que propõem uma sociedade alternativa, que celebram caubóis foras-da-lei, que falam sobre a experiência de ser um maluco beleza. Quando resolve aliviar e penetrar no universo infantil, qual personagem Rauzito escolhe? O Carimbador MALUCO, é óbvio. Essas características fazem com que a música de Raul Santos Seixas seja um prato cheio para quem não se liga muito em regras, se tornando uma espécie de retrato do “way of life” dos maltrapilhos.

Como não sou profundo conhecedor da obra de Raul, antes de escrever esse texto resolvi pesquisar nos sites de busca uma possível relação do roqueiro baiano com os moradores de rua e acabei me deparando com uma canção chamada “Diamante de Mendigo” (1979). Com título e temática servindo talvez de contraponto ao sucesso “Ouro de Tolo” (1973), a letra fala sobre a importância da família, evocando valores, de certa forma, tradicionalistas. Chega a ser até contraditório que a letra mais careta de Raul trate exatamente dos mendigos – imagino que essa facção “outsider” do seu público deva ter rejeitado veementemente a “homenagem” feita por Raul, da mesma forma que os punks execraram a equivocada canção “Punk da Periferia” (1983), de Gilberto Gil.

Voltando aos 20 anos sem Raul Seixas, lembro até hoje do dia de sua morte: era uma segunda-feira e, se não me engano, recebi a notícia às 13h, assistindo ao Jornal Hoje, da Rede Globo. À noite, no programa Boca Livre, apresentado por Kid Vinil na TV Cultura (retransmitida pela TVE em Brasília), a banda Maria Angélica, comandada pelo jornalista/músico Fernando Naporano - e tendo Kid Vinil como convidado - encerrou o programa tocando duas pérolas do grande roqueiro baiano: "Aluga-se" e "Rock das Aranha" (1980).

Um grande amigo meu costuma dizer que é um contrassenso chamar Raul de “o grande roqueiro brasileiro” ou o “pai do rock brasileiro”. Na visão dele, Raulzito era um exímio cantor de...boleros! De fato, do inicío com Os Panteras até o fim de sua carreira, Raul Seixas foi maneirando as guitarras em seu som e enveredando por caminhos que quebram qualquer visão mais ortodoxa do que seja considerado rock. Discussões de rótulos à parte, o mais importante talvez seja a singularidade e a criatividade contidas na obra do compositor e cantor baiano, frutos de uma salutar mistura de referências, que iam de Elvis Presley a Luiz Gonzaga. É essa marca muito pessoal que faz Raul Seixas figurar entre os grandes nomes da música brasileira.

A popularidade de Raulzito, mesmo nos dias de hoje, é de chamar a atenção, tanto pelo lado musical quanto pelo aspecto mítico que ronda sua personalidade. Fazendo uma pesquisa informal com amigos, notei que, ao zapear pelos canais, vários resolveram “parar” na Rede Globo quando se depararam com o programa sobre Raul Seixas. Isso porque sua música, sua vida e suas histórias ainda são alvos de curiosidade de seu público – seja este formado por maltrapilhos ou não. Afinal, não é qualquer artista que se transforma em uma espécie de grito de guerra genérico da platéia (já um tanto batido, é verdade) em shows do mais variados gêneros musicais: – Toca Rauuuuulllll!!! - berram os espectadores, a plenos pulmões.

terça-feira, 8 de dezembro de 2009

29 anos sem John Lennon


Há exatos 29 anos, morria John Lennon, assassinado pelo fã(nático) Mark Chapmann quando voltava para o edifício Dakota, onde morava em Nova Iorque. Na vaga lembrança dos meus seis anos de idade, ainda me recordo do apresentador Fernando Vanucci anunciando o falecimento do beatle, no encerramento do Globo Esporte. Naquela época, eu não sabia quem era John Lennon e nem mesmo os Beatles, mas o clima de comoção na voz do apresentador da Globo e das pessoas ao meu redor me marcou a ponto de manter o fato vivo na memória até hoje.

Demorei a descobrir a genialidade de John Lennon. Como costumo dizer, sou fã tardio dos Beatles: acabei “descobrindo” – na verdade, deixando os preconceitos de lado em relação a – o grupo a partir de uma fita do Sgt. Pepper’s emprestada por um amigo em 1995. Como grande parte dos sons que nos conquistam, aquelas músicas caíram em minhas mãos no momento certo, numa fase pessoal de melancolia - e um certo psicodelismo - que batia bem com a mensagem por trás do disco lançado em 1967. Além disso, eu já possuía ferramentas musicais suficientes para entender aquele som.

Arrebatado pela rica musicalidade dos Beatles, passei a prestar atenção nas letras e melodias de John Lennon. Devo confessar que demorei também a entender sua grandiosidade como letrista – algo que sempre havia lido a respeito nas revistas de música. Cria dos anos 80 que sou, achava que letras interessantes deveriam trazer algo de hermético, como fez muito bem Ian Curtis, ou irônico, como nos ensinou Morrissey, ou mesmo trazer algumas figuras de linguagem e referência à Literatura, tão bem utilizadas por Renato Russo. John Lennon expandiu a minha visão ao revelar como uma letra extraordinária pode ser, simplesmente, direta e confessional, construída a partir de palavras simples (querem exemplo melhor do que Jealous Guy?).

Mas, geralmente, quando tratamos de um gênio, não podemos falar só de uma qualidade. Além do lado confessional, John Lennon também sabia como ninguém, em suas letras, ser bem humorado (Being for the Benefit of Mr. Kite), psicodélico (Lucy in the Sky with Diamonds), falar nas entrelinhas de um caso extraconjugal (Norwegian Wood), expressar sua angústia durante um período conturbado (Help), tratar de questões espirituais (Across the Universe ou God). Nas melodias e harmonias, Lennon também era brilhante, conseguindo unir tradição (Revolution é um rock’n’roll básico) e estruturas nada convencionais, como Strawberry Fields Forever, Tomorrow Never Knows e Revolution 9.

Numa entrevista à revista Rolling Stone em dezembro de 1970, John Lennon diz se considerar um bom guitarrista, por saber levar bem o ritmo na base. O beatle também era um excelente vocalista. Mais do que tudo, o que esses talentos revelam é que John Lennon tinha uma visão global de música e sabia muito bem como deveria funcionar uma banda, lição aprendida desde os seus tempos de The Quarrymen.

Bem, não sou daqueles caras que conhecem Beatles ou mesmo a carreira solo de Lennon com profundidade e, certamente, outros amigos escreveriam esse texto com muito mais propriedade do que eu. Na verdade, o intuito desse relato é apenas apresentar uma visão pessoal da obra de John Lennon, aproveitando para prestar uma homenagem a um dos maiores ícones do século XX.

segunda-feira, 7 de dezembro de 2009

O dia em que Bob Marley virou Papai Noel


Quando vi o flyer acima, no balcão da Pizzaria Dom Bosco da 107 sul, achei-o engraçadão. Resolvi, então, trazê-lo para compartilhar com vocês. É esquisito, mas, assim como o Botafogo, tem coisas que só acontecem com o Reggae. Essa filipeta é um exemplo típico desse mundo tão particular: em primeiro lugar, a extrema reverência em relação ao ídolo Bob Marley, tratado muitas vezes como uma espécie de deus. Neste caso, os organizadores do show inovaram ao colocar Bob numa posição de... Papai Noel!!! E a maneira como isso ocorreu é, de certa forma, hilária: botando um gorrinho vermelho na cabeça do cantor jamaicano, num esquema de copiar e colar que remete ao velhos tempos de Paint Brush. Ah, e para não quebrar a tradição, não poderiam faltar as cores da bandeira da Etiópia (verde, vermelho e amarelo) na fonte que compõe o título do evento

Apesar de não entender bem o que significa "Reggae do Noel", fiquei fã desse flyer. Gostei também do nome do MC: Promissor. Fiquei me perguntando o que acontecerá com ele, caso um dia venha a fazer sucesso. Certamente, terá que trocar de nome.

Bom, mas não quero ficar sendo irônico o tempo todo, não. Na verdade, o quero dizer é que, apesar da tosqueira e da absoluta falta de estilo, acho que tem um lado legal nessa ingenuidade gráfica. Como os leitores desse blog podem notar, às vezes fico meio de saco cheio dessa cultura do estilo. E, querendo ou não, artes toscas como essa acabam mostrando um outro lado da moeda no meio musical, talvez mais espontâneo. Ok, também não quero me tornar uma pessoa que, por certa birra, passa a cultuar a ignorância e o mau gosto. Mas, sei lá, de repente, pode haver um meio termo entre os dois mundos (o estiloso e o naive).

Deixando o papo (metido a) cabeça de lado, curtam aí o flyer do Reggae do Noel e tirem suas próprias conclusões.